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Constrangimento ou conveniência

A imprensa informa que aliados do governo se sentiram constrangidos com a desenvoltura de Lula nas ações políticas da semana passada. No entanto, as mesmas fontes indicam que as ações foram necessárias.

Formadores de opinião também declararam na imprensa que Lula deveria deixar Dilma governar sem interferências.

A questão pode ser analisada por muitos ângulos. Vou buscar, para não cansar meus parcos leitores, apenas dois.

O primeiro aspecto refere-se à legitimidade de Lula atuar politicamente. O outro diz respeito à eficácia da iniciativa.

Não deve existir dúvida quando ao direito e à legitimidade de Lula de atuar politicamente. Além de ser ex-presidente da República e de ter elegido sua sucessora, Lula é presidente de honra do PT e mentor ideológico do governo.

Lula idealizou a coalizão que o elegeu e, também, a que levou Dilma ao Planalto. Em cada acordo com os partidos da base governista houve ações decisivas de Lula.

Mais do que ser um ex-presidente, foi Lula quem construiu o modelo político que está em vigor no país desde 2002. A ponto de analistas políticos, como eu, considerarem que a força política mais forte hoje no país é o “lulismo”, que engloba não apenas o PT, mas setores expressivos do PMDB e do PSB, entre outros partidos.

Evidentemente, com a eclosão da crise provocada pelas denúncias em torno de Antonio Palocci, e em meio ao debate acirrado do Código Florestal, Lula não poderia ficar distante, apenas assistindo e deixando a confusão fragilizar o governo.

Omitir-se em momentos de dificuldade seria não apenas uma burrice, mas uma forma de se eximir do debate político, o que não é típico de ex-presidentes no Brasil.

A atuação política de Lula não deve ser confundida com gestão política ou de governo. Ela ocorre muito mais no plano do relacionamento e das ideias do que na administração diária da política.

A gestão política – que se refere à relação cotidiana do governo com a sua base e a oposição – deve ser feita por interlocutores e instituições conhecidas, como Relações Institucionais, Casa Civil, Conselho Político, pela Presidência e, ainda, por todos os ministros.

Porém, dialogar é essencial. Como escrevi pouco antes da crise de Palocci, o governo precisa dialogar com a sua base para reduzir tensões e evitar problemas.

Assim, a atuação de Lula amplia a capacidade de interlocução e de entendimento do governo com sua base de apoio.

Os gestos de Lula não podem ser considerados constrangedores. São mais do que necessários para assegurar o sucesso da fórmula que inventou.

é bobagem imaginar que a imagem de Dilma Rousseff fica enfraquecida com sua intervenção. O que importa, no final das contas, é o sucesso do governo. Se este fracassasse política ou economicamente, aí sim Dilma seria verdadeiramente afetada. E, por tabela, Lula.

Nenhum dos dois deseja isso. Portanto, proteger a gestão e fortalecer a capacidade de articulação política é mais do que conveniente e eficaz.

Para a oposição, a atuação de Lula é uma má notícia, já que sua habilidade para dialogar e cooptar apoio é mais do que reconhecida.

Por fim, vale dizer que a atuação do ex-presidente comprovou que a operação política do governo está capenga e que muitos dos problemas que apareceram nas últimas duas semanas têm suas raízes na forma equivocada de se relacionar com a base política.