A presidente Dilma Rousseff completou cem dias de governo. O balanço da atual administração é, em geral, positivo. Dilma conseguiu se consolidar com chefe de estado e não resta dúvida de que governa com personalidade e atitude.
Os resultados que o governo obteve no Congresso foram bons. Os candidatos apoiados pelo Planalto foram eleitos para as presidências da Câmara e do Senado: Marco Maia (PT-RS) e José Sarney (PMDB-AP), respectivamente. O governo venceu na votação do salário mínimo e do projeto de lei do decreto legislativo que renegocia o acordo com Brasil com o Paraguai pelo excedente de energia da Hidrelétrica de Itaipu.
Na economia, o governo também tem demonstrado compromisso com a questão fiscal, monetária e cambial. Foram anunciados cortes de R$ 50 bilhões no Orçamento da União para este ano, conforme expectativa do mercado.
Na linha do seu discurso de posse, Dilma reforçou seu compromisso de combate à inflação. O Banco Central subiu os juros nas duas reuniões que realizou este ano. Na semana passada, a Fazenda decidiu aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para operações de crédito. Foram divulgadas ainda medidas para conter a valorização do real frente ao dólar.
Na política externa, a postura de Dilma tem sido bem-recebida pela comunidade internacional. Sobre a posição do Brasil na votação de moção pela ONU condenando violações de direitos humanos no Irã, inclusive o apedrejamento de mulheres, a presidente afirmou não concordar.
Dilma também sinalizou com uma posição mais pragmática frente aos EUA. A visita de Barack Obama foi um gesto simbólico importante, visto como uma mudança na postura da gestão anterior. Ainda que nada do que tenha sido feito destoe do que Lula pensa sobre o tema.
Por conta disso, Dilma Rousseff tem o melhor início de governo de todos os presidentes desde 1989 (Collor, Itamar, FHC e Lula), conforme revelou recentemente o instituto Datafolha.
Se por um lado, isso é positivo porque garante a presidente um acumulo de popularidade para enfrentar os temas de difícil consenso com, por exemplo, a divisão dos royalties do pré-sal e a reforma tributária, de outro, aumenta as expectativas da opinião pública em relação a presidente.
Porém, existem aspectos negativos que merecem ser destacados. O governo continua muito fechado e o acesso é difícil, especialmente ao chamado núcleo duro. Percebem-se, ainda, alguns atritos no primeiro escalão.
No início do ano, por exemplo, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, criticou publicamente o fato de o governo insistir no salário mínimo de R$ 550. Foi obrigado a recuar depois que a presidente disse que divergências internas não deveriam ser tratadas pela imprensa.
Depois que o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, sinalizou com possível aumento no preço da gasolina, os ministros Guido Mantega e Edison Lobão afirmaram que essa hipótese não está nos planos do governo. A imprensa explora, ainda, eventuais divergências entre Mantega e Antonio Palocci.
A questão da troca de comando na Vale foi muito conturbada. Existem, também, os atritos na base aliada decorrentes da demora nas indicações de cargos de segundo e terceiro escalões.
Mas, de um modo geral, o saldo é positivo. Além do fato inconteste que Dilma conseguiu imprimir uma marca ao seu governo sem descaracterizar o fato de ser uma continuidade da era Lula. Isso está evidente no resultado das pesquisas de opinião divulgadas recentemente e nos resultados obtidos no Congresso Nacional.