Tudo pode acontecer, por Murillo de Aragão
7 de março de 2014
Apoio a Dilma na Câmara é o pior desde sua posse, por Murillo de Aragão
11 de março de 2014
Exibir tudo

'Casamento' PT e PMDB passa por novas divergências, por Murillo de Aragão

O período do Carnaval não foi capaz de conter o surgimento de novas divergências entre PT e PMDB, os dois principais partidos de sustentação do governo Dilma Rousseff. Aliás, desde 2011 a marca do “casamento” entre petistas e peemedebistas tem sido as idas e vindas dessas divergências, que podem ser atribuídas à vocação hegemônica de setores do PT. Essa hegemonia pretendida pelo PT gera atritos com o PMDB, já que há dificuldade e até falta de habilidade política do Palácio do Planalto de lidar com seu principal aliado.
 
A chamada “nova crise” teve início no Sambódromo do Rio de Janeiro. Nesse estado, o PMDB demonstra grande insatisfação com a decisão do PT de lançar a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) ao governo fluminense, ao invés de apoiar o nome do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato do governador Sérgio Cabral (PMDB).
 
No Sambódromo, ao comentar a posição do presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani, que defendeu apoio ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), o presidente nacional do PT, Rui Falcão, declarou que Picciani era ligado ao líder do PMDB na Câmara (o deputado federal Eduardo Cunha), que estaria liderando o chamado “bloco dos independentes”, que pressiona por mais cargos no governo.
 
Eduardo Cunha, por sua vez, reagiu ameaçando convocar uma pré-convenção nacional do PMDB para “repensar” a aliança nacional com o PT. Nessa troca de acusações, o presidente do PT fluminense, Washington Quaquá, também se manifestou. Ele classificou Cunha de mentiroso e chantagista. Jorge Picciani reagiu. O presidente do PMDB fluminense “bateu” forte em Rui Falcão ao chamá-lo de “vagabundo”. 
Por trás dessa insatisfação do PMDB está, conforme mencionado, o descontentamento com a candidatura de Lindbergh Farias no Rio de Janeiro. No entanto, essa é uma questão restrita a esse estado. Ao que tudo indica, o principal interessado em criar atritos à aliança nacional entre PT e PMDB é Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que estaria empenhado na busca de recursos e espaços no governo.
 
Segundo conversa da Arko Advice com um importante líder do PMDB, o que Eduardo Cunha estaria tentando é “entrar mais para o governo e não sair dele”. Assim, Cunha falaria por ele e por uma parte do PMDB, até pelo fato de ser o líder peemedebista na Câmara, mas não pela totalidade do partido.
 
Tudo leva a crer que essa também é a avaliação feita pelo Palácio do Planalto sobre Eduardo Cunha. Não por acaso o Planalto tomou a decisão de fortalecer a interlocução com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). O objetivo é não ficar refém de Cunha, que canaliza as insatisfações de parte significativa da Câmara dos Deputados, que recentemente criou o chamado bloco dos “independentes”.
 
é importante lembrar que segundo pesquisa divulgada pelo “Estadão”, no sábado passado (08), constatou-se uma divisão na bancada do PMDB. De acordo com a enquete do jornal, 23 deputados peemedebistas defendem a ruptura imediata da aliança eleitoral com Dilma. Outros 25 são favoráveis a manutenção da aliança com o PT, mas quase todos os críticos à condução política do governo. 5 deputados do PMDB disseram acompanhar o líder da bancada, Eduardo Cunha.
 
Vale registrar que, na avaliação desse líder peemedebista com quem a Arko conversou, apesar desse atrito e da tendência de PMDB e PT não estarem juntos em algumas disputas estaduais, é alta a possibilidade de a aliança nacional entre os dois partidos ser reeditada em outubro.
 
Ainda na projeção feita por esse mesmo líder do PMDB, se a convenção nacional do partido, que tem o poder de deliberar sobre a aliança, fosse realizada hoje a aliança com o PT ganharia a aprovação de 65% a 75% dos convencionais. Hoje, apenas três estados são considerados contrários à reedição da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer: Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Em outros três (Ceará, Maranhão e Mato Grosso do Sul), há risco de os convencionais do PMDB também se posicionarem contra a aliança.
 
Apesar do cenário favorável à reedição da união nacional entre os dois partidos, o governo necessita melhorar o diálogo com o PMDB. Por enquanto, o único gesto da presidente Dilma Rousseff foi oferecer o Ministério do Turismo ao senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). No entanto, como o Turismo é uma pasta hoje comandada pelo “PMDB da Câmara”, a escolha de Vital pode acirrar os ânimos na Câmara.
 
Por enquanto temos poucos gestos do governo que indiquem maiores concessões ao PMDB. Mesmo que o governo esteja disposto a fortalecer a interlocução com Temer, a fim de isolar Eduardo Cunha, o PT não esboça disposição em ceder mais espaços ao PMDB na reforma ministerial nem tampouco em apoiar candidatos peemedebistas a governador em estados onde esse partido deseja ter o apoio do PT.
 
Porém, a entrada do ex-presidente Lula nas negociações com o PMDB deve contribuir para amenizar a tensão existente com o PT. Na semana passada, Lula entrou em contato com o presidente nacional do PMDB em exercício, o senador Valdir Raupp (RO).
 
Melhorar o diálogo com o PMDB é uma necessidade para o governo. Além de evitar problemas na Câmara e até uma possível contaminação no Senado, é fundamental que o PT busque não apenas ter o tempo de TV do PMDB ao lado de Dilma Rousseff, mas também a poderosa máquina peemedebista trabalhando a favor da reeleição da presidente.