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Caldos e rescaldos da crise política

Imaginem os jogadores de um mesmo time se atacando em campo e deixando de lado o adversário e seu objetivo central, que é ganhar a partida. Imaginem uma equipe em que o técnico não conversa com o preparador físico e muito pouco com os jogadores. Não. Não é o Brasil ou a França na áfrica do Sul em 2010. é o governo em Brasília hoje.

Na falta de oponentes de peso, já que a oposição continua rebaixada à série C, o governo promove um verdadeiro ultimate fighting dentro dos próprios quadros!

O rescaldo da saída de Antonio Palocci da Casa Civil e da troca de Luiz Sérgio por Ideli Salvatti na Secretaria de Relações Institucionais é ruim, ainda que os substitutos escolhidos para as duas pastas tenham muitas qualidades.

Não é o caso de criticar quem sai ou quem entra. Mas a qualidade do processo. A insatisfação dos principais atores políticos de Brasília é generalizada. Ninguém está satisfeito com ninguém.

Informações apontam que a presidente Dilma Rousseff estaria bastante irritada com o PMDB, tanto por reclamações e por eventos ocorridos durante a crise Palocci e a votação do Código Florestal quanto pelo vazamento de notícias que contaminariam ainda mais o ambiente político.

A insatisfação do PMDB é clara: a maioria de seus parlamentares acredita que o relacionamento do partido com o governo é bem pior do que na gestão Lula. Pesquisa da Folha de S. Paulo com 95 dos 98 parlamentares peemedebistas confirma a relação deficitária entre o partido e o Planalto. Para 55 membros da legenda, o diálogo entre o Executivo e o Congresso diminuiu, se comparado ao governo anterior.

Dilma também estaria muito insatisfeita com o PT da Câmara e suas várias lideranças, incluindo Marco Maia (presidente da Casa), Cândido Vaccarezza (líder do governo) e Paulo Teixeira (líder do partido). Por conta da ebulição permanente das várias facções dentro da legenda. Por conta dos desencontros nas votações. E, mais recentemente, por conta do açodamento na escolha de um substituto para Luiz Sérgio.

Na esfera legislativa, as reclamações quanto à falta de diálogo estão se amontoando. Reclama-se, também, de falta de paciência e de interesse quando o diálogo ocorre.

A escolha de Gleisi Hoffmann, para o posto de Palocci, e de Ideli Salvatti foi comunicada aos aliados no Congresso quando alguns ainda esperavam sondagens e entendimentos prévios que resultassem em opções de consenso. Ou, pelo menos, a construção de uma aparência de consenso dentro da base governista.

Considerando o quadro de hoje, temos Poder Executivo e base de apoio em um momento muito ruim, o que pode trazer sérias consequências de curto, médio e longo prazos.

No curto prazo, a crise de relacionamento pode afetar o andamento da agenda legislativa. O acúmulo de passivos de mágoas pode resultar também em um problema maior mais adiante. Por exemplo, uma derrota importante em alguma votação ou mesmo a criação de uma CPI inconveniente.

No médio e longo prazos, a capacidade do Planalto de conciliar os interesses de aliados com vistas às eleições de 2012 e 2014 pode vir a ser dramaticamente afetada e os entendimentos e as alianças se formarem sem a liderança da presidente.

Considerando a situação, tudo indica que o quadro político viverá um período de piora ou, no melhor cenário, de estagnação, antes de entrar em um processo virtuoso. O governo Dilma não concluiu seu aprendizado político e pode sofrer ainda alguns reveses.

Curiosamente, apesar do sucesso econômico e da herança positiva da era Lula, a nova gestão vive turbulências geradas dentro do próprio governo que levaram ao prematuro fim da lua de mel com o Congresso. Daqui em diante, o jogo político vai ser mais duro.