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8 de abril de 2010
PP entre Serra e Dilma
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Aspectos de uma eleição polarizada

Alguns aspectos sobressaem do quadro eleitoral que se aproxima. O primeiro deles é a polarização entre dois candidatos ponteiros; José Serra e Dilma Rousseff. Apesar da relevância política de Ciro Gomes e de Marina Silva, a tendência predominante é a polarização entre os dois ponteiros.

Alguns fatores favorecem tal situação. Serra se beneficia do recall de sua imagem como político e do peso da máquina política e administrativa de São Paulo. Dilma se aproveita tanto do prestígio de seu padrinho político, o presidente Lula, quanto do poder da máquina federal. Em um país de baixa cultura política e elevada dependência do estado, o peso das máquinas administrativas pode fazer a diferença na disputa.

Daí ambos estarem à frente nas pesquisas e, de acordo com a última pesquisa do Vox Populi, próximos de um empate técnico. Vale dizer, ainda, que tanto Serra quanto Dilma deverão ter as estruturas políticas mais caras e sofisticadas. Amparadas em coalizões estaduais mais fortes do que as disponíveis para Ciro e Marina.

Outro aspecto que se destaca é a fragilidade partidária. O quadro que se apresenta é muito confuso. Tanto na organização das coalizões, quanto no comprometimento com programas. Partidos divididos entre dois candidatos presidenciais é fato. Aliados federais divididos em palanques estaduais, também. Adversários no plano federal irmanados em torno de candidaturas estaduais não é raro.

A fragilidade partidária está expressa em duas vertentes. Plataformas eleitorais têm quase nenhum significado no debate. Até o momento, não se estabeleceu um debate sobre o que os candidatos querem para o país. Dilma, pelo seu lado, representa o continuísmo bem sucedido de Lula. Daí ter menos preocupação em inovar. Porém, Serra ainda não mostrou o que tem como vetores de transformação para justificar que deixem de lado um modelo popular e apostem nele.

Além da inexistência de um debate sobre plataformas políticas, a disputa ideológica é muito limitada. De forma geral, Serra, Dilma e Ciro seguem a mesma cartilha ideológica: estado forte, regulação, políticas industriais, algum xenofobismo e programas assistenciais. Não há, a rigor, grande diferença ideológica entre os principais candidatos. E, o mais interessante, é que todos estamos confortáveis com isso. O Brasil acha natural que exista certa estreitamento do debate ideológico. Até mesmo por mostrar o centro da política longe de radicalismos.

O quinto aspecto é a prevalência da agenda econômica sobre os demais temas. Apesar da precariedade de muitos serviços públicos ofertados à sociedade, o debate ainda vai estar centrado no ambiente econômico. Como o quadro é favorável, a tendência é a de que a conjuntura alavanque a candidatura governista. Por outro lado, Serra e os demais têm que construir um discurso que seja forte o suficiente para mobilizar sem ser antagônico às realizações do governo.

Frente ao quadro de 2006, a grande diferença é a ausência – até agora – do escândalo político como tema central. Na eleição passada, o Mensalão poderia ter feito a diferença contra Lula. Atrapalhou, mas não impediu a sua vitória. As realizações econômicas e, sobretudo, o sentimento de que os pobres estavam representados por Lula no poder, prevaleceu.

Para 2010, temos um quadro divido em termos de escândalos. Ambos os candidatos padecem de efeitos colaterais de eventos indesejáveis. Como, por exemplo, o Mensalão de Brasília e o recente escândalo do Bancoop. Até agora, nenhum dos dois pode alardear "clean sheet" nesse tópico. O que, de certa forma zera o jogo nesse quesito.

Sem Lula na campanha como candidato, a sua força vai ser testada como cabo eleitoral. Nesse sentido, os aspectos e fragilidades apontadas favorecem ao papel de Lula na campanha. Não existe um debate programático. Não existe um debate ideológico. Lula está acima dos partidos que, como se sabe, são frágeis. Sua popularidade é altíssima. Temos um quadro onde o personalismo pode prevalecer acima das idéias. Sem um fato novo de impacto extraordinário, será uma eleição onde Lula será a peça central. Na prática, será uma disputa contra Lula e suas realizações do que um debate de idéias e programas.