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As opções de Lula e suas conseqüências

Murillo de Aragão

Lula deu mostras de extraordinária habilidade política nas últimas semanas. Mesmo que, para tanto, tenha sacrificado o ritmo de governo do país, que vive à espera do novo Ministério há mais de 60 dias, fato inusitado em nossa história.


O presidente absorveu a vitória de Arlindo Chinaglia, hoje o nome mais importante do PT na esfera política. Mas deu o troco, tirando do partido qualquer atribuição relevante na articulação política. Nenhum novo líder do governo é do PT. A coordenação política ficou com Walfrido Mares Guia (PTB).



Lula foi além. Reduziu a imagem de Marta Suplicy (insistentemente recomendada pelo partido), submetendo-a a uma longa, penosa humilhação para ser indicada ministra do Turismo. Um trocado para quem tem planos de alto nível.



Arlindo Chinaglia, que não era o candidato de Lula à presidência da Câmara, acabou beneficiado pelos erros cometidos por Aldo Rebelo. O primeiro foi o de encampar o aumento salarial dos deputados. Fracassou e teve que recuar. O segundo erro foi permitir o PMDB se juntar ao PT na luta pela Câmara.



A escolha errada de Lula ainda faz estragos. Nem Aldo Rebelo assimilou a derrota, nem Arlindo assimilou a vitória. O impasse gerou um racha na base governista. Hoje convivem ali quatro grupos: o bloquinho (PSB-PCdoB-PDT), que almeja ter candidato à presidência da República em 2010; o PT; a aliança PMDB-PTB e os sem bloco PR e PP. Lula, que deveria ter conduzido melhor a disputa, passou a apostar na reforma ministerial para curar as feridas.



Passada a confusão da sucessão da Câmara, o presidente começou a fazer gols. Nomeou José Múcio Monteiro (PTB-PE) para a liderança do governo. Reconhecido como bom articulador político, o deputado pernambucano transita bem em vários setores do Congresso. Foi um dos principais coordenadores da campanha de Arlindo Chinaglia.



A indicação desagradou a setores do PT, que defendiam outra solução. Mas satisfez Arlindo, que se consolidou como o mais importante petista na esfera do Congresso. José Múcio e Arlindo Chinaglia jogam juntos para assegurar os interesses do governo na Câmara, tendo o apoio dos peemedebistas Michel Temer e Henrique Eduardo Alves.



O outro movimento do presidente foi nomear líderes do governo no Senado e no Congresso que reforçam sua influência no PMDB. Renan Calheiros e José Sarney foram muito bem atendidos com Romero Jucá e Roseana Sarney.



Lula soube abandonar a tempo a candidatura de Nelson Jobim e apoiar Michel Temer. Com isso evitou o erro do passado, quando tentou reeleger José Sarney em detrimento de Renan Calheiros, no Senado. Assegurou para os deputados do partido dois ministérios: Agricultura e Integração Nacional, este com Geddel Viera Lima.



As ações com o PMDB devem render um nível bom de apoio ao governo. Falta acertar os ponteiros com o PSB, o PCdoB e o PDT que foram contrariados. O PSB deve ganhar uma secretaria para dar abrigo o grupo de Ciro Gomes. O PCdoB ficará com o ministério dos Esportes, que não é lá grandes coisas. O PDT ocupará a Previdência Social, um ministério complicado, que deveria receber um choque de modernização com a nomeação de um executivo de primeira linha.



Tarso Genro, deslocado para o Ministério da Justiça, não era homem de Lula em 2003. Assim como Cristovam Buarque e Eduardo Suplicy, articulou a própria candidatura presidencial, em meados de 2001, e por causa disso Lula demorou a perdoá-lo. Ao longo da crise do mensalão, Genro foi leal ao presidente e segurou a barra do partido. Foi sucessivamente deslocado de posições para atender aos interesses de Lula. Daí ter ido para uma posição muito delicada no Ministério.


 A nomeação de Walfrido Mares Guia visa, sobretudo, colocar um gerentão nas relações políticas com o Congresso. Mineiro, Guia é conhecido como um dos poucos ministros que dialoga com parlamentares e cumpre com as promessas feitas. Como coordenador político estará encarregado do atendimento de pedidos da base política. José Múcio e os demais se encarregarão de garantir os votos necessários para a agenda do governo.



O saldo político da reforma ministerial é positivo, ainda que algumas posições estejam pendentes e Lula não tenha aproveitado a oportunidade para reduzir o tamanho da equipe. São 34 ministérios, e ele ainda analisa a criação de mais um.



A chave do seu sucesso está no grau de adesão do PMDB, que deverá ser maior do que na legislatura passada. Caso isso se confirme, Lula terá uma situação política no Congresso bastante favorável. É lamentável que não esteja nos planos do governo empregá-la para grandes reformas.