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Argentina: uma ano especial


A importância do ano de 2007 para os argentinos é evidente. No ano em que se optará entre manter o atual presidente ou escolher um novo mandatário, o país novamente terá mais um período de crescimento econômico acima das expectativas. No entanto, há algumas preocupações sobre a distribuição energética e a briga eleitoral poderá ser conturbada.


A preocupação mais iminente é a do abastecimento elétrico. A capacidade de geração elétrica encontra-se muito pouco acima do limite aceitável.


Com a demanda aumentando exponencialmente, a solução encontrada até pouco tempo, importar do Brasil, não será suficiente para garantir uma boa distribuição no país.


Há necessidade de melhorar a infra-estrutura de distribuição de energia no sul do país, e também é importante iniciar a construção de duas usinas termoelétricas na região de Buenos Aires.


Apesar das dificuldades energéticas que o país pode sofrer, o grande assunto do ano são as eleições. No dia 28 de outubro, os argentinos irão escolher o presidente da república, 22 governadores (Corrientes e Santiago del Estero já tiveram suas eleições), além de renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado.


Ainda há algumas dúvidas no ar sobre qual comportamento o presidente Nestor Kirchner irá adotar. Enquanto membros aliados do partido levantam a hipótese de Cristina Kirchner, senadora da república e esposa do atual presidente, ser a candidata, a grande maioria dos argentinos crêem que Nestor Kirchner deverá concorrer à reeleição.


Independente de quem concorra, sabemos que a oposição terá pouquíssimas chances de evitar que Nestor Kirchner, diretamente, ou por meio de sua esposa, se mantenha no poder.


A lógica por trás de uma eventual candidatura de Cristina Kirchner é sólida.


Com sua vitória, Kirchner continuaria tendo um papel preponderante no governo além de voltar em 2011 e concorrer à reeleição em 2015.


Há rumores de que uma das razões para a hipótese de Cristina ser a candidata é a previsão de desaceleração da economia global a partir deste ano, criando um clima instável para o presidente governar, no quadriênio posterior ao seu mandato, preferindo, assim, recuar, para retornar em 2011. Seja Nestor, seja Cristina, a oposição não consegue se organizar para combater solidamente nenhum dos dois.


O ex-Ministro Roberto Lavagna conta com o apoio do outrora forte Unión Cívica Radical (UCR), partido de Raúl Alfonsín, o primeiro presidente democrático após o golpe de 1976. Conta também com o evidente apoio da ala anti-Kirchner do Partido Justicialista. Mesmo sendo visto como um candidato relativamente forte, sua campanha deverá manter-se sempre no mais alto nível para poder competir com Kirchner.


Seu teto, segundo recentes pesquisas, é de 35%, enquanto o piso de Nestor Kirchner é de 40%. No melhor dos mundos, Lavagna conseguirá levar Kirchner para o segundo turno. Mas, é importante lembrar que o sistema argentino estabelece que no caso de o primeiro colocado alcançar mais de 40% dos votos com uma diferença de 10% para o segundo colocado, ele vencerá no primeiro turno.


Outro presidenciável é Maurício Macri. Tradicional político argentino, certamente abandonará sua candidatura á presidência da república, apoiará Lavagna e se dedicará a montar uma base eleitoral para se candidatar à prefeitura de Buenos Aires em 2008.


Mesmo sendo franco favorito, Nestor Kirchner poderá contar com alguns obstáculos, caso oficialize sua candidatura. Os ruralistas são os mais insatisfeitos com a política de controle de preços. Com bastante influência na sociedade, eles poderão bancar a campanha de Lavagna e ampliar o seu alcance.


Na política externa, é muito provável que continuaremos a ver Nestor Kirchner pendendo ora para o lado de Lula, ora para o lado de Hugo Chávez. Esse vem sendo o comportamento em política exterior e dificilmente irá mudar.


Como existe um certo grau de sentimento anti-americano entre os argentinos, é provável que Kirchner se aproxime mais de Hugo Chávez no período eleitoral para garantir alguns votos, já que Chávez é bem visto entre a classe média e classe média baixa argentina, eleitores tradicionais de Kirchner.