Na sexta-feira passada, o governo foi surpreendido por um motim de controladores de vôo que resultou no fechamento dos aeroportos em todo o país. O movimento começou em Manaus e estourou com força em Brasília.
Houve demonstrações explícitas de desobediência e quebra da hierarquia militar. Tanto por parte dos amotinados quanto pelo lado das autoridades civis do governo. A começar pelo presidente da República que, de forma complacente, determinou que os líderes do motim não fossem presos.
Ao largo dos evidentes problemas de competência e liderança, o agravamento do problema pode ter, pelo menos, cinco conseqüências imediatas:
Rumores apontam que se o governo não agir, novas operações poderão acontecer. Por exemplo: o advogado do sindicato dos controladores ameaçou transformar a Semana Santa em um inferno caso as medidas do governo acordadas com os amotinados não sejam imediatamente postas em prática.
Ou seja, o governo continuará a ser objeto de chantagem de forma explícita. A conduta dos controladores e a complacência do governo Lula abrem espaço para que outros setores organizados da sociedade adotem o mesmo estilo de atuação dos controladores.
É o caso da Polícia Federal, que reclama um aumento salarial prometido e não concedido; o MST, eternamente insatisfeito com a reforma agrária.
Pelo menos duas providências foram anunciadas pelo governo: a criação de um canal de comunicação permanente com os controladores de vôo para analisar o problema e a edição de uma medida provisória desmilitarizando a categoria, o que pode acontecer ainda nesta semana.
Não há consenso no diagnóstico da situação. Os militares não engoliram o fato de Lula ter aliviado os amotinados. O comando da Aeronáutica ameaçou se demitir.
Na tarde de hoje, Lula se reúne com os comandantes das três forças para tentar contornar a crise e ameaçar o clima pesado que ronda as relações do governo com os militares.
Contando como certa a instalação da CPI na Câmara, o governo já está se mobilizando para assumir seu controle. Um passo importante nessa direção é tentar garantir a relatoria. O mais cotado para assumir tal responsabilidade é o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), que é ligado ao grupo de Marta Suplicy.