Em um bom artigo da Folha de S.Paulo da semana passada, a senadora Marta Suplicy condena as alianças “estapafúrdias” e aponta para o esgotamento do que chama de “realpolitik”. Marta se refere à aliança de Haddad (PT) com Maluf e, ainda, de Serra (PSDB) com o PR de Alfredo Nascimento. Todas ocorridas na disputa eleitoral municipal.
Em que pese Marta dar mais um troco por ter sido preterida como candidata do PT à Prefeitura paulista, sua observação é mais do que válida. Porém, apesar dos riscos de rejeição do eleitorado às alianças estapafúrdias, nada vai mudar tão cedo na política brasileira. Adversários de ontem são, hoje, amigos de infância e, quem sabe, inimigos amanhã. Tudo depende dos ventos do poder. Quem pode ajudar mais é o que interessa, independentemente de seu passado ou sua trajetória.
Na essência, somos todos mais ou menos iguais em nossa visão de Estado, de governo e de sociedade. A maior parte do universo político-partidário nacional gosta de Estado forte, verbas públicas, poder burocrata e intervenções regulatórias. Sendo assim, é muito fácil adaptar programas a ambições, e vice-versa. Maluf e Lula são homens de poder, tanto quanto Serra e Nascimento.
O que importa, como diria um velho político nordestino, “é o pudê”!
A lógica está presente em muitos momentos da vida política nacional. O que vale é ganhar o poder, independentemente dos compromissos e das alianças. Basta ler obras como Getúlio, de Lyra Neto, ou João Goulart, de Jorge Ferreira, para vermos episódios semelhantes no passado brasileiro.
Infelizmente, o modelo não vai se esgotar, ainda que tenha limites claros. Eleitores mais esclarecidos tendem a repudiar alianças esdrúxulas. No entanto, a maior parte não está interessada em tomar partido a respeito de decisões da politicagem desde que o tema ou as pessoas não estejam com a imagem “carbonizada” pela mídia eletrônica no momento da decisão.
Em regra, passando o tempo e diminuindo a ira midiática, qualquer um pode ser aliado de qualquer um. Basta um bom motivo eleitoral. Caso a consciência crítica não seja despertada por maciças doses de informação televisiva, as questões passam despercebidas.
As mudanças no comportamento do eleitor vão demorar a acontecer e estarão associadas à distribuição de renda, a uma melhor educação e a um maior interesse pelas questões políticas. Trata-se de processos lentos que não se dão de uma hora para outra, mas que podem ser acelerados por eventos extraordinários ou inusitados. Como, por exemplo, aqueles que provocaram a Primavera árabe.