A visita da presidente brasileira na República Popular da China entre os dias 12 e 14 de abril trazem elementos concretos para observar pontos essenciais do raciocínio político da Presidente da República e certas necessidades da atual estratégia brasileira.
Dilma Rousseff chega ao país Asiático alguns dias após receber a visita do presidente dos Estados Unidos. Enquanto esteve com Barack Obama, a presidente Dilma se mostrou compenetrada no papel de Chefe de Estado, pensando principalmente em reaquecer um contato que havia estagnado ao longo dos últimos anos com este histórico e importante parceiro, apesar das intensas relações comerciais que se mantiveram.
Pelo observado, ela tem consciência não apenas de que os norte-americanos são importantes em termos de parcerias, mas também que o bom funcionamento da economia deste país é determinante para o equilíbrio do sistema global e o Brasil poderá lucrar com o diálogo reaberto, especialmente neste momento em que é um dos focos mundiais para atração de investimentos.
Com a China, o diálogo terá o mesmo objetivo de investimentos, relações de negócios e parcerias econômicas, mas com outros componentes. As relações comerciais entre os dois países apresentam tendência crescente, ao ponto de já ter ultrapassado aquelas que existiam com os norte-americanos, sendo os chineses hoje os principais parceiros comerciais do Brasil.
Ademais, já há uma diferença fundamental: enquanto com os EUA existe déficit na balança comercial, com os chineses, a relação se inverte, pois existe um significativo superávit, podendo ser ampliado, desde que ocorra um planejamento adequado, aproveitando o estímulo propiciado pela conjuntura.
Deve-se destacar que este montante decorre em grande medida da exportação de commodities e, apesar de ser importante, os analistas apontam que a tendência será a inversão, na medida em que houver maior atuação dos chineses no Brasil.
Acredita-se que isso ocorrerá especialmente devido à carência tecnológica brasileira, aos problemas estruturais, jurídicos e fiscais do país, um conjunto de elementos que trazem excepcionais dificuldades para o empreendedorismo e inovação.
Na China, a visita brasileira não está recebendo grandes destaques da mídia, mas o setor governamental e empresarial (o relevante neste momento) está consciente da presença de Dilma e acredita que poderão surgir grandes acordos, tanto que estão sendo feitas duas missões comerciais para este mesmo período. Uma terá aproximadamente 200 pessoas e está sendo organizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI); a outra está sendo preparada pela Câmara de Comércio Americana (Amcham).
Os objetivos são claros e pragmáticos: fazer negócios. Neste sentido, poderão receber dividendos das reuniões que a Presidente terá com as autoridades chinesas, uma vez que ela seguiu para a ásia assessorada nas questões econômicas relevantes para o Brasil. Em princípio, divulgou-se que discutirá a desvalorização do Yuan, pois está acompanhando as dificuldades geradas para o Brasil pela valorização da moeda chinesa em contrapartida da constante valorização do Real.
Analistas apontam que, apesar de importante, esta é uma questão acessória num planejamento geral, pois a perda de competitividade dos produtos brasileiros decorre de várias outras questões, especialmente a logística, a tributária e a falta de planejamento estratégico.
Por isso, acreditam que ela tocará no problema da “guerra cambial”, mas poderá aproveitar o momento para discutir investimentos seguros em setores estratégicos que tragam possibilidade de dar prosseguimento à arrancada brasileira e para isso tem uma carta na manga: os grandes eventos esportivos mundiais que ocorrerão no Brasil em 2014 e 2016.
Estimulando este cenário, vários empresários e autoridades chinesas afirmam que as duas economias são complementares. No entanto, os chineses adotam a posição de que elas se complementam na relação de importação de matérias-primas brasileiras, com exportação de produtos industrializados chineses e olham para o Brasil com perspectivas de fazerem investimentos equivalentes aos que são feitos na áfrica. Ou seja, com parcerias em setores energéticos e em infraestrutura, exatamente nos pontos essenciais para que a economia chinesa se mantenha em crescimento, para responder às necessidades específicas de seu mercado, para estimular o seu próprio setor empreendedor e para deixar as economias dos países destinatários dos investimento chineses a reboque de suas necessidade e desenvolvimento industrial.
Dilma, pelo anunciado na mídia, está consciente dessas dificuldades, razão pela qual deseja discutir aspectos que podem significar um crescimento coletivo, e não o atrelamento de uma economia à outra.
Como vários analistas estão apontando, Dilma tem atuado de forma mais estratégica e menos ideológica, razão pela qual os diálogos poderão produzir frutos concretos, desde que recebam internamente no Brasil uma imediata elaboração para tornar eficaz o que for acordado e não se perca em discussões para responder a interesses de exclusivos grupos políticos ou necessidades de poucos segmentos econômicos.