A 96ª Pesquisa CNT/Sensus divulgada no final de março pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) registra o índice Avaliação de 41,18 e o índice Expectativa de 65,90. Em janeiro de 2009, o indicador Avaliação situava-se em 47,31 e o Expectativa, em 68,95. O primeiro é formado pela ponderação das variáveis emprego, renda, saúde, educação e segurança pública para os últimos seis meses e o índice Expectativa pela ponderação das mesmas variáveis para o próximo semestre. A pesquisa foi realizada de 23 a 27 de março, em 136 municípios nas cinco regiões brasileiras, ouvidas 2.000 pessoas.
A avaliação positiva do governo do presidente Luiz Inácio Lula registrou 62,4% e a negativa, 7,6%. Em janeiro de 2009, a avaliação positiva situava-se em 72,5% e a negativa, em 5,0%. A aprovação do desempenho pessoal do presidente era de 76,2% e a desaprovação, de 19,9%. Em janeiro, esses dois indicadores estavam em 84,0% e 12,2%, respectivamente. Ou seja, tanto a aprovação do governo quanto a aprovação do desempenho pessoal de Lula foram afetados pelas repercussões negativas nas áreas de crédito, emprego, desempenho industrial e vendas, que acabaram produzindo um bimestre extremamente desfavorável. Para Clésio Andrade, presidente da CNT, entidade que patrocina a pesquisa, "a queda nos números de aprovação ao presidente Lula mostra que a crise financeira mundial está preocupando o brasileiro, mas, ao mesmo tempo, ele se mostra otimista com relação aos mecanismos que o Brasil possui para enfrentar essa crise".
Considerando o tamanho da crise e as suas repercussões, a perda de popularidade do governo e do presidente ainda é pequena. O estrago poderia ser bem maior. Um amigo que vive na Europa me observou que lá o impacto é devastador, em alguns casos sobrepondo-se a um quadro econômico anterior que era desfavorável. Não é o nosso caso até agora. O governo minimizou as perdas com base na proteção a alguns setores emblemáticos, como o automobilístico, e no carisma pessoal do presidente, ancorado em sua conhecida facilidade de comunicação, especialmente com o homem comum. Há ainda a incapacidade da oposição para faturar em cima da crise. Mesmo tendo afetado o governo, o melhor discurso sobre a crise continua sendo do presidente Lula e do governo como um todo. Toda semana, o governo aparece com destaque divulgando alguma iniciativa destinada a atacar o problema. Os escândalos do Congresso também ajudam o governo, na medida que desviam a atenção para outros temas ou que a oposição também aparece envolvida em episódios desabonadores.
Portanto, sem uma oposição eficiente na construção de um discurso de alternativa à crise, o presidente Lula poderá – pelo menos – reduzir o desgaste e manter sua popularidade acima dos 50%. Evidentemente, não é o cenário ideal, mas considerando a crise e suas repercussões ainda está saindo barato. Além dessa perspectiva, o Planalto trabalha com a possibilidade de recuperação econômica no último trimestre do ano, a partir de pequenas melhorias de um período sobre o outro, conforme revelou o presidente Lula durante cerimônia de inauguração da usina de biodiesel Darcy Ribeiro, da Petrobras, em Montes Claros, à qual compareceram o governador Aécio Neves e ministra Dilma Rousseff, dois presidenciáveis ligados por suas histórias à região. Nesses discursos, o presidente tenta passar para a plateia um otimismo que muitas vezes não se constata em sua própria equipe, principalmente a econômica, mais exposta aos desdobramentos da crise no Tesouro, onde o problema da queda na arrecadação sufoca a iniciativa política.