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Acerto de contas

A CPI do Cachoeira é um dos episódios mais interessantes da sub-história política do Brasil. Rivaliza com a CPI do Orçamento, a CPI que resultou no impeachment do Collor, a CPI sobre as relações da Rede Globo com o grupo Time-Life, entre algumas outras

Além dos evidentes aspectos inacreditáveis das relações identificadas entre políticos, empresas e personalidades, existe outra motivação que torna o evento uma oportunidade especial para o acerto de contas de uns e outros: quase todas as principais expressões políticas envolvidas têm algum tipo de dívida a ser cobrada por conta de casos passados.

O PT tem especial interesse em atacar Marconi Perillo (PSDB), um dos deflagradores do escândalo do Mensalão, e também Demóstenes Torres (Sem-partido-GO), que, como um paladino farisaico da moralidade, perseguiu implacavelmente o PT.

O PMDB de Goiás quer igualmente pegar Perillo, seu tradicional inimigo, que, por sua vez, ameaça retaliar na CPI, instalada na Assembleia Legislativa de Goiás. O PMDB nacional, ainda magoado com a truculenta substituição de Romero Jucá da liderança do governo no Senado, indicou para a CPI senadores com duvidoso índice de fidelidade ao governo. Mais um troco.

O Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, tem suas diferenças com o PT por conta do processo do Mensalão. Gurgel afirmou nas alegações finais da denúncia do mensalão que o Ministério Público Federal está plenamente convencido de que as provas produzidas no curso da investigação comprovaram a existência do mensalão, suposto esquema criminoso voltado para a obtenção de apoio político no Congresso Nacional durante o governo Lula.

No PT, também há a suspeita de Gurgel ter sido complacente com Demóstenes. Por isso, não será bem tratado. Discute-se se ele será convocado ou convidado. O MP federal alega que ele não está obrigado a ir. Veremos que tem razão.

A lista prossegue. A revista Veja – que o PT considera a maior oposicionista ao partido – é alvo certo, por conta da suspeita de que seus editores tenham emplacado grampos ilegais entre a turma de Carlinhos Cachoeira visando obter “furos”. Alega que é algo muito pior do que aconteceu no News of the World, de Rupert Murdoch, na Inglaterra.

Na conta da Veja tem também Fernando Collor, que se considera vítima da revista em seu rumoroso processo de impeachment. Já disse que não deixará a CPI ser pautada pela “mídia nem por seus rabiscadores”. Agora, na condição de investigador, poderá pesar a mão contra a publicação.

José Dirceu, outro que sempre foi objeto de cobertura ácida da Veja, quer reabrir o caso mal-resolvido das gravações das pessoas que frequentavam seu quarto no Hotel Naoum. No episódio, um jornalista da revista teria tentado invadir o quarto para bisbilhotar.

Enfim, a política nacional tem uma péssima característica: seu processo tende a ser mais vibrante nas agendas negativas do que nas agendas a favor. A imprensa – que é afeita ao tradicional “good news are bad news” – trabalha para aumentar a temperatura e pautar a história com base em seu roteiro. Ironicamente, a temperatura da CPI do Cachoeira pode aumentar por conta dos aspectos que envolvem à mídia.

Infelizmente, para se aprovar uma reforma ou um aperfeiçoamento demora anos ou se aguarda uma grande crise. Já para prejudicar um antigo desafeto não custa muito. é só esperar as voltas que o mundo político dá.

Porém, o troco não está presente apenas na vingança. Está, também, no outro lado da moeda: apoios dados anteriormente serão cobrados contra e/ou a favor de uns e de outros no processo.

Por isso a composição da CPI foi escolhida a dedo por aqueles que puderam influir em sua formação. Por isso, também, dizem que Carlinhos Cachoeira teria gargalhado quando viu essa composição.