Secretário do PT defende volta de Berzoini. Para analistas, foi um equívoco
Veja matéria do Globo On Line
A volta de Ricardo Berzoini à presidência do PT, após o escândalo do dossiê, opôs a ala moderada aos grupos de esquerda do partido. Em artigo publicado no site do PT nesta quinta-feira, o secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT, Paulo Ferreira, defende a volta de Berzoini à presidência da legenda e critica a carta em que o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, diz que o retorno de Berzoini é ruim para o partido.
|
Para analistas ouvidos pelo GLOBO ONLINE, a volta do petista também foi um equívoco, que pode prejudicar a imagem da legenda junto à opinião pública. E comprova que o campo majoritário continua mais forte do que nunca.
– Fica uma situação esquisita. Não fica bem para o partido que tem como desafio reconstruir sua imagem, afetada pelo episódio do mensalão e do dossiê, manter o Berzoini. Houve inflexão e incapacidade de contornar a situação – avalia o cientista político Murilo Aragão, presidente da empresa de consultoria Arko Advice.
– É um equívoco diante da opinião pública, pois sugere a falta de disposição de fazer mea-culpa – analisa, por sua vez, o pesquisador Paulo Roberto Figueira Leal, autor do livro “O PT e o dilema da representação política – a quem representam os deputados petistas?”
Para o especialista, o retorno de Berzoini ao cargo é a maior prova de que a refundação do PT, defendida por alguns militantes do partido e pelo ministro Tarso Genro, está cada vez mais distante de acontecer. Segundo ele, ficou claro que esta é uma tendência minoritária, que não terá força para “resgatar a alma do partido”, durante o congresso marcado para julho.
– Sinaliza para a opinião pública que a disposição de fazer a refundação não é majoritária. Acho pouco provável que haja uma reconfiguração do partido à esquerda. As ações do governo Lula são dissonantes das ações históricas do partido. Os sinais foram dados ao longo do tempo. Se tiver mudança, será para ser mais palatável a outros segmentos. A volta do Berzoini é um emblema desse processo. É uma demonstração cabal de que o campo majoritário tem força para reconduzir alguém que esteve sob suspeição – afirma Figueira Leal, para quem é grande a chance de que no congresso a ala à esquerda reconheça que “perdeu a alma do partido”.
Na opinião de Aragão, o movimento para refundação do PT não passa de um factóide. O que deveria ser feito, segundo ele, é uma limpeza no quadro do partido.
– A refundação é quase um factóide. O PT não precisava de refundação, e sim afastar de forma inequívoca pessoas que adotaram práticas incompatíveis com a democracia e lisura do processo político. Fez com o Delúbio e o Genoino, mas não fez com o Mercadante e o Berzoini. Com a eleição ganha, a tendência foi aliviar um pouco a carga com os envolvidos. No episódio do mensalão, o risco de perder a eleição era grande – avalia.
Se a tensão interna acirrar, Figueira Leal não descarta um novo processo de debandada dentro da ala mais à esquerda do partido, como aconteceu no primeiro ano do governo Lula. Neste contexto, o PSOL poderia ser um dos beneficiados.
– A possibilidade de que as tensões internas do PT se adentrem são grandes. Agora, o PT demonstrou que é uma marca eleitoral forte. Isso pode desestimular aqueles que estão descontentes com os rumos ideológicos a deixar o barco eleitoral para um vôo de sucesso duvidoso em um partido pequeno – pondera.
O especialista lembra ainda que o episódio da volta de Berzoini é um prato cheio para a oposição.
– É a deixa para dizer que o discurso era eleitoreiro. Que passada a eleição, tudo volta ao que era antes – analisa.
Murilo Aragão pondera:
– Pode dar motivo a um discurso mais agressivo. Mas é só retórica. Não terá efeito prático, só de aquecer o debate. A oposição está muito fragilizada. Ficou claro que a oposição só cresce se tem escândalo, se não tem escândalo, eles não têm discurso.
O Globo Online