Desde os anos 80, o Brasil é sacudido, periodicamente, por escândalos de natureza variada. Todos eles têm origem no poder descomunal do Estado perante a sociedade, o que se traduz na opacidade do funcionamento da máquina pública e na perpetuação de grupos políticos no poder. Vale dizer que esses dois elementos estão umbilicalmente unidos.
Explorando tais características de nosso país, a banda podre da política consagrou uma fórmula largamente empregada para a perenização no poder. A fórmula consiste em manter um protagonismo ativo em obras e em ações sociais.
Por meio dessa fórmula, as compras e obras públicas garantem fonte de renda para campanhas. E a distribuição de verbas assistenciais, por sua vez, assegura a cumplicidade inocente do eleitorado, ignorante e carente.
Considere-se uma situação hipotética: o governador do partido X foi eleito em meio a um grave escândalo do governo anterior. Com base em um discurso moralista e responsável e com o apoio da mídia, o novo governador toma posse.
De cara, anuncia que vai suspender todos os pagamentos pendentes do governo anterior e que fará uma varredura para saber se essas contas estão corretas. Enquanto isso, no submundo, seu grupo examina a possibilidade de herdar os favores ilícitos prestados à administração anterior e/ou, de acordo com o caso, defenestrar o contratado e buscar outro mais confiável.
A fórmula emprega também um lado fiscal forte com atrasos nos pagamentos e jogo duro com o aumento do funcionalismo e das despesas com programas sociais. Apenas a mídia continua sendo aquinhoada com verbas generosas que, quase sempre, terminam aumentando, ainda que um jornal mais agressivo possa ser punido por sua ousadia oposicionista.
Em sendo um governador da base governista federal, a situação é mais fácil, haja vista que o acesso a programas e verbas discricionárias é amplo. Em sendo da oposição, é mais difícil obter aqui e ali algum favor, mas não impossível.
Já decidindo como será o término desse governo hipotético, o segundo ano é um ano de transição, já que existem as eleições municipais. Assim, a distribuição de bondades começa pela esfera municipal, com o objetivo de assegurar uma boa base de sustentação para a reeleição.
Já no terceiro ano é chegada a hora de acelerar os gastos. Tanto em obras que acabam revertendo apoios financeiros para a campanha logo adiante quanto em programas sociais que agradem à massa pobre do eleitorado.
A combinação quase sempre funciona por conta de uma coleção de fatores típicos ao país. O controle da máquina estatal é uma vantagem importante, já que o Estado é muito mais forte do que a sociedade no Brasil. O outro aspecto está no poder de contratar e gerar apoio financeiro para campanhas e, ainda, de agradar à mídia com uma vasta verba publicitária.
Parte expressiva do eleitorado, que é desinteressada e descrente do jogo político, quer ver resultados, independentemente de valores éticos ou princípios morais. Ainda que não concorde com o “rouba, mas faz”, termina achando que “a vida é assim mesmo”.
As ações e os episódios ocorridos nas últimas décadas demonstram uma evolução no sentido de uma maior transparência e de um maior controle social do Estado. Contudo, ainda estamos longe da situação ideal como é possível verificar pela série de escândalos do momento. Sobretudo pelo fato de que a política, mais do que nunca, está sendo feita com base em interesses e não em valores.