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A DIPLOMACIA DO ÁLCOOL

Biocombustíveis não são um tema novo para os brasileiros. A relação do País com o álcool combustível remonta à década de 1970 e ao pró-álcool. Mesmo para a política externa brasileira a questão não é tão recente quanto pode fazer parecer o excepcional destaque dado pela mídia brasileira nas últimas semanas. Já há alguns anos, a difusão do álcool combustível como alternativa energética viável e o incentivo à criação de uma mercado internacional para o etanol têm ocupado a diplomacia brasileira em seus contatos com a América Central, o Caribe e a África, em especial, embora de modo discreto como parecem exigir a lide diplomática e a natureza técnica das missões que se ocuparam do tema até muito recentemente.


 


Nas últimas semanas, porém, o lugar de destaque que tem merecido a questão deve-se a uma convergência excepcionalmente favorável de fatores, que passam pelo aumento do interesse e, mesmo, engajamento de lideranças dos países desenvolvidos (em especial, do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e da cúpula européia, mas também, embora mais discretamente, do Japão) e pela necessidade de equacionar ambas as questões energética e ambiental, que encontram na utilização de bioenergia a promessa de uma solução viável no curto prazo.


 


De forma bastante pragmática, o tema tem participado da agenda prioritária do País desde o início do mês, quando da visita do presidente norte-americano ao Brasil no último dia 08. Esta semana, voltou à agenda, merecendo lugar de destaque nos encontros que o premiê italiano, Romano Prodi, entreteve no Brasil, entre segunda (26) e terça (27). Com Prodi, a promessa de investimentos e consolidação de parceria no setor, para além de seu impacto sobre as relações bilaterais, sinaliza a intenção européia em intensificar a utilização de biocombustíveis e costurar, com o Brasil, uma parceria estratégica, nos moldes da firmada entre Brasil e Estados Unidos. A costura política da parceria estratégica com a Europa deverá ser confirmada no próximo dia 05 de julho, quando o presidente Lula participa em Bruxelas (Bélgica) de conferência sobre biocombustíveis.


 


No caso dos norteamericanos, o tema deverá merecer lugar de destaque uma vez mais no encontro


presidencial do próximo sábado (31), quando o presidente Lula será recebido por seu colega estadunidense, George W. Bush, em Camp David. Não será o único tema da pauta bilateral (ver quadro verde), mas a importância consignada à questão fica evidente na insistência de ambos os presidentes em tratar do assunto nos dias que antecedem a viagem.


 


Transformar o álcool em commodity exigirá esforços e investimentos, ampliando a oferta de modo confiável e consolidando mercados. O momento, no entanto, não poderia parecer mais apropriado.


 


No caso brasileiro, o tema não deverá ficar restrito à diplomacia. No Congresso, a Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou requerimento que convoca uma audiência pública para discutir o impacto da economia do etanol e alguns parlamentares têm recebido denúncias de compra de grandes extensões de terras por estrangeiros que querem investir na nova era aberta pela produção de energia renovável. No Executivo, o investimento na área poderá significar uma maior intervenção no setor. Uma das propostas do governo poderá ser a criação de espécie de Petrobras do etanol para administrar os vários interesses em conflito, além de toda a infraestrutura

relativa a crédito, regulação, legislação trabalhista etc.