Por Murillo de Aragão
O Tempo – 09/03/2016
Os acontecimentos das últimas três semanas aceleram e aprofundam a velocidade da crise. Nunca o risco de este governo acabar esteve tão alto. A Arko Advice estima em 50% a possibilidade de a presidente Dilma Rousseff não terminar o seu mandato, o que é uma percentagem altíssima.
Quais são as razões para isso?
1) Pela primeira vez existe uma acusação formal (ainda não homologada) contra a presidente Dilma Rousseff relacionada a seu atual mandato. A delação do senador Delcídio do Amaral de que a indicação do ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça teria sido “encomendada” para salvar o empresário Marcelo Odebrecht da prisão, é muito séria. Dilma Rousseff pode vir a ser acusada de tentar obstruir o funcionamento da Justiça. A possível homologação da delação de Delcídio será um grande revés para o governo.
2) Lula foi objeto de condução coercitiva, o que – midiaticamente – é trágico. Pior é a convicção, já formada pelo Ministério Público Federal, de que o ex-presidente seria o chefe de um esquema criminoso. Tudo indica que Lula será indiciado, o que enfraquece ainda mais o governo;
3) Em 30 dias, ou um pouco mais, a Câmara vai começar a examinar o processo de impeachment em meio ao agravamento da conjuntura econômica;
4) Existem delações bombásticas a caminho. Além do testemunho do senador Delcídio do Amaral, os depoimentos de executivos das empreiteiras OAS e Andrade Gutierrez e do ex-presidente do PP e ex-deputado Pedro Corrêa podem resultar em revelações altamente comprometedoras;
5) O chamamento de Lula à resistência por parte do PT e dos movimentos sociais às investigações comandadas pelo juiz Sérgio Moro, à frente da operação Lava Jato, pode causar o enfraquecimento da base de sustentação do governo. Diretórios do PT e movimentos sociais em vários Estados começaram ontem a convocar atos em defesa do ex-presidente Lula.
O que deve acontecer no curto prazo?
A crise pode ter os seguintes desfechos nos próximos 30 ou 45 dias:
1) Em seu aprofundamento, a presidente Dilma Rousseff rompe com o PT e tenta refazer o governo a partir de uma nova maioria. É uma possibilidade, ainda que improvável. No entanto, o agravamento da crise pode levar a essa opção;
2) Sentindo-se isolada e sem condições, a presidente Dilma solicita licença e pede que o vice-presidente organize uma nova maioria para aprovar medidas emergenciais. É outra opção improvável, mas que não pode ser descartada diante de um acirramento da crise;
3) O TSE, em que pese o clima, não deve acelerar o julgamento da chapa a ponto de este ser concluído nos próximos 30 ou 45 dias;
4) A partir da decisão do STF sobre constituição e funcionamento da comissão que examinará o impeachment, o processo começará a ser debatido na Câmara com resultados incertos. Hoje, o governo ainda tem maioria para barrar o impeachment. A cada dia, no entanto, a situação fica pior para o Planalto;
5) As manifestações de 13 de março, por causa das recentes revelações e pela disposição de resistência de Lula e de seus aliados, têm um poder desestabilizador importante, que pode acelerar os vários tempos da crise.
Portanto, salvo um evento extraordinário, o que veremos no período é o agravamento da crise política a partir de novas delações, mas sem uma definição clara do fim do governo. Até mesmo pelo fato de as crises – econômica e política – e as investigações da Lava Jato e da operação Zelotes terem tempos distintos e dinâmicas próprias.