A economia brasileira prepara-se para experimentar um salto monumental. Alguns dados são muito expressivos. Se tomarmos os resultados do setor de transporte aéreo comparando outubro deste ano com outubro do ano passado, o aumento é de quase 40%. Caro que outubro foi o mês do crash. Mesmo assim, a recuperação é significativa, pois se analisarmos os dados de julho (2009) contra julho (2008), o crescimento foi de 20%. No ano, o desempenho esperado deverá ser superior a 10%. Em 2010, espera-se que o transporte de passageiros avance mais de 12%. A renda também cresce a uma taxa superior a 5%. Ora, mesmo sem a qualidade que esses números poderiam espelhar se tivéssemos realizados as reformas tributária e do Estado, o crescimento que está por vir será extraordinário e colocará o país em outro patamar econômico.
No entanto, duas questões são centrais e precisam ser superadas: a qualidade pedestre do debate político e a hegemonia do estado sobre a sociedade. Ambas estão imbricadas. A debilidade da agenda política transpassa por todos os setores da sociedade. Desde a besteirol reinante nas observações de que quem se dá ao trabalho de postar um comentário na internet até as tribunas da Câmara e do Senado. A participação política oscila entre quatro vetores: a pura bobagem, o interesse menor, o desinteresse e o fundamentalismo. Ainda que bem que o fundamentalismo no Brasil é praticamente limitado a lunáticos, como setores do MST, entre outros poucos.
As conseqüências da hegemonia do estado sobre a sociedade são óbvias: o corporativismo exacerbado de quem controla posições-chave no estado; a distribuição seletiva de benefícios em detrimento de políticas globais e de alcance ilimitado; o caráter subalterno das relações entre a sociedade e o poder público; e a fragilidade da proteção institucional do cidadão submetida ao voluntarismo e ao protagonismo sem limites dos poderes públicos.
O crash de 2008 teve a infelicidade de acentuar ainda mais o debate sobre o papel do estado ao aliar nossa precária capacidade de reflexão ao caráter subalterno de nossas relações com o poder público, uma herança colonial que estende seus malefícios ao século XXI. A resultante é a sua elevação ao nível máximo como agente assegurador do bem estar e do progresso em detrimento da sociedade. Claro que não funciona assim. Como diria o filósofo José Genoíno, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.
Contemplamos simultaneamente a caravana da economia avançando rumo ao futuro e o lento processo de mudanças na política ocorrendo lentamente. Salvo as ações da justiça, os aperfeiçoamentos são conseguidos em compotas. Evidente que, considerando o paradoxo do salto qualitativo da economia frente ao caráter arcaico do nosso desenvolvimento político, temos uma situação na qual nossas potencialidades continuam a ser subaproveitadas. Mesmo no momento em que o mundo se volta para o Brasil com especial – e inédita – atenção.
Considerando o quadro, fica evidente a dependência que temos da qualificação, do altruísmo de nossos líderes e de uma boa parcela de sorte. Cada um com suas virtudes e vícios, nossos últimos presidentes tiveram mais acertos do que erros. Com a proximidade das eleições presidenciais, temos quatro ou cinco bons candidatos. Pena que representem, de forma inequívoca, uma adesão inconteste à fórmula em vigor: uma sociedade fraca sob um estado forte.