Murillo de Aragão
As pesquisas CNT/Sensus e Datafolha divulgadas nos últimos dias mostram dois aspectos positivos para o governo, nos quais mídia e oposição não apostariam há dois meses: a avaliação do governo subiu, voltando aos patamares próximos dos 80% que em política é quase unanimidade, e Dilma Rousseff cresceu nas pesquisas de intenção de voto enquanto José Serra perdeu pontos. Esses resultados podem ser explicados pelos seguintes fatores: o sucesso das medidas anunciadas pelo governo para conter a crise financeira internacional e os 30 minutos de exposição do PT em cadeia de rádio e TV (propaganda partidária), quando a ministra foi a estrela. A performance de Dilma consolida sua posição como candidata do PT à Presidência da República, embora o Datafolha traga um elemento importante que impede o enterro total da hipótese do terceiro mandato: 49% dizem rejeitar tal hipótese, quando em novembro de 2007 esse percentual era de 63%.
Quem sabe ler pesquisas não se surpreende com o avanço da ministra, pois até 30% significaria que ela está dentro do patrimônio eleitoral do PT. Fenômeno seria ela ultrapassar essa faixa. Nesse caso, estaria havendo transferência de votos do presidente Lula, dado com o qual a oposição teria dificuldades de conviver. O maior impacto das informações reveladas pela CNT/Sensus e Datafolha resulta da recuperação da popularidade do presidente Lula. Numa época de crise, com forte queda do emprego e do PIB, Lula mantém popularidade recorde e divide a opinião dos brasileiros sobre a conveniência do terceiro mandato.
No PSDB, o resultado da pesquisa fortalece o governador de São Paulo, José Serra. Embora a vantagem dele em relação a Dilma tenha caído treze pontos percentuais (de 35 – pesquisa de março de 2008 – para 22), ele continua liderando as pesquisas. Pela CNT, a vantagem que era de 29,4 pontos percentuais em março, hoje caiu para 16,9 pontos. A recusa de Serra a entrar em campanha e o impasse na escolha do nome do PSDB não ajudam o governador paulista, mas é intrigante a constatação de que, embora mais conhecido, em nenhum momento ele tenha atingindo os 50% que lhe dariam um mínimo de tranquilidade na competição. Aécio Neves foi ultrapassado pela ministra. Pesquisa do Datafolha de março mostrava o governador mineiro com 17% e Dilma com 12%. Hoje, ele aparece com 14% ante 19% da ministra. A vantagem na CNT/Sensus é ainda maior: Dilma tem 27,8% e Aécio, 18,18%. Em março, esses percentuais eram de 19,9% e 22%, respectivamente.
Em junho, o PSDB também terá ampla exposição em programas de rádio e TV. Serão 30 minutos ao todo, entre um programa nacional de 10 minutos e 20 minutos de inserções ao longo da programação diária. Tanto José Serra quanto Aécio poderão recuperar alguns pontos percentuais ou, pelo menos, parar de cair. Em que pese a distância das eleições, essas duas pesquisas reforçam algumas tendências: a polarização entre PT e PSDB não parece ameaçada; Dilma Rousseff mostrou-se viável e consolida-se como candidata do PT; ficará difícil para o PSDB abrir mão do seu candidato mais forte para enfrentar uma disputa tão acirrada. A julgar pelo desempenho de Dilma em quase um ano, começa a surgir a impressão de que se Lula mantiver a performance e ela aprender a arte de representar o governo de maior aprovação do último meio século de história do Brasil, o jogo começará a ficar difícil para seu adversário. Principalmente porque, enquanto ela vai se transformando na herdeira de Lula, não sabe até agora o que a oposição tem a oferecer.