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A Política em 2012

 
No artigo anterior, iniciei a avaliação das tendências de 2012 a partir da economia como o aspecto político mais relevante. Com o descontrole econômico, o governo perderia as condições de coordenar a sua base política e seria inviabilizado politicamente. Há outros aspectos políticos, contudo, que merecem ser examinados. O novo ano traz o desafio da anunciada reforma ministerial e das eleições municipais, que são, nas atuais circunstâncias, orientadas pelas agendas locais.
 
Reforma ministerial. Dilma herdou um ministério cuja proposta era manter o ritmo anterior e assegurar uma transição suave para a nova era presidencial. A sucessão de escândalos catapultou diversos ministros. Vale mencionar, ainda, que a saída de Nelson Jobim ocorreu por divergências ideológicas e não por escândalos. Como conseqüência, ela promoveu ajustes que ainda não firmaram a sua imagem como presidenta em seu ministério. Foram ajustes de emergência. Com a reforma do primeiro trimestre de 2012, Dilma vai conciliar o padrão atual da coalizão – que é fracamente desequilibrado em favor do PT – com a escolha de nomes que sejam mais identificados com o seu perfil empreendedor.
 
Eleições municipais. Sem uma grande crise econômica para dominar o noticiário e promover a sua repercussão no eleitorado, a eleição de 2012 deverá ser pautada por questões locais e pela influência preferencial dos governadores de estado no jogo. Ainda que desodorizada das questões nacionais, as eleições municipais têm repercussões sérias na disputa presidencial de 2014.
 
Primeiro pelo fato de que aliados da esfera federal (PT, PMDB, PSB, entre outros) vão se enfrentar em confrontos diretos em algumas capitais (São Paulo, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e mais algumas). O segundo aspecto é que alguns partidos veem a disputa eleitoral como forma de cacifar o seu peso político para 2012 (daí o PMDB querer lançar candidato em São Paulo e o PSB querer fazer o mesmo em Recife). Um bom desempenho nas eleições municipais pode pavimentar o caminho para uma candidatura presidencial ou um lugar "vip" nas chapas da disputa em 2012 (tema que interessa ao PMDB, que quer continuar como vice de Dilma; e ao PSB que sonha lançar Eduardo Campos como a terceira via).
 
Na oposição, os sonhos de 2014 também têm repercussão em 2012. Serra almeja manter sua influência na cidade de São Paulo. Aécio em Belo Horizonte. O PSD também deseja crescer na esfera municipal de olho em 2014. O tema eleitoral municipal é de longe o evento mais importante da agenda política no ano. Mais de 70 deputados devem disputar prefeituras e as votações no Congresso, a partir de agosto, tendem a perder ritmo.
 
Três certezas emergem, portanto, das tendências: o PT continuará maior do que deveria frente à sua representação parlamentar na reforma ministerial; Lula continuará a ser a inspiração maior do governo e em sintonia permanente com Dilma; os conflitos da base prosseguiram e serão mais acirrados devido às eleições municipais. Aliás, muitos pensavam que o modelo de relacionamento entre Lula e Dilma seria nos moldes Putin-Medvedev. Não o é. Apesar da influência de Lula, Dilma tem grande autonomia de gestão e tende a continuar assim na medida em que sua gestão for popular.
 
Além do que está na pauta, as negociações políticas com vistas às liberações de recursos tendem a aumentar em ano eleitoral. O que, em consequência, poderá aumentar o custo gerencial da política para o governo.