O Brasil cresceu, em média, 4,4% nos últimos oito anos, distribuiu renda e engrossou a classe média em quase uma Argentina com 40 milhões de habitantes. Mas para o servente de pedreiro Luiz Matias, 62 anos, algo de muito errado está acontecendo. Ele não vê os investimentos necessários do governo e do setor privado para que o país dê o mínimo de dignidade aos mais pobres dos cidadãos. "Sinceramente, se o futuro chegou, ainda não me deparei com ele", diz. As palavras de Matias podem até conter um certo exagero. Mas refletem o cansaço de suas brigas para ter acesso a um serviço básico – energia elétrica – de qualidade em pleno ano de 2012. Com endereço fixo a apenas 25 quilômetros do Palácio do Planalto, ele reclama da constante falta de luz. A mais recente delas durou seis dias e o resultado foram cinco quilos de carne apodrecidos na geladeira. "Minha compra do mês foi para o lixo", diz o piauiense, morador de um loteamento em Ceilândia.
Como ele, milhões de brasileiros, de todas as classes sociais, são vítimas do descaso e da incapacidade do país de tirar do papel obras que garantam energia elétrica 24 horas por dia. Em 2011, justamente pelos frutos do crescimento econômico, o Brasil passou o maior tempo no escuro – foram 20 horas de apagão. Não à toa, o sinal de alerta dos especialistas foi ligado. Eles indagam: se o país com os maiores recursos hídricos do planeta não conseguiu, até agora, mesmo com toda a propaganda governamental, universalizar o fornecimento de energia elétrica e evitar transtornos à população, conseguirá dar conta de realizar dois dos maiores eventos esportivos do mundo, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, sem passar por vexames? (Correio Braziliense)