As eleições de 2018 têm gerado conflitos devido ao acirramento dos ânimos por conta de fatores como a Operação Lava Jato, a trágica e desastrosa gestão de Dilma Rousseff (PT) e o choque entre o vanguardismo cultural de setores da mídia e o conservadorismo remanescente no País.
Portanto, essas eleições não refletem apenas uma disputa entre dois polos de poder (PT e PSDB), conforme tradicionalmente ocorre desde 1994. Outros conflitos estão contribuindo para que se forme um mosaico multipolar de interesses em jogo.
Ao menos cinco polos de narrativas disputam hoje o poder. No campo populista, disputam Ciro Gomes (PDT), com suas propostas de zerar a dívida dos inadimplentes; Jair Bolsonaro (PSL), com o projeto de armar a população; e Fernando Haddad (PT), que busca reviver os momentos assistencialistas do ex-presidente Lula.
No âmbito dos costumes, o vanguardismo quer ampliar os espaços do movimento LGBT, em confronto com o conservadorismo em largos setores da sociedade. Setores que se horrorizam com a insistência com que as novelas da Rede Globo, por exemplo, banalizam o que, para a imensa maioria, ainda não é banal.
No campo ideológico, instalou-se um conflito entre a esquerda e a direita inédito nos últimos 30 anos. As disputas ficavam sempre no campo da centro-esquerda e da esquerda, já que ser de direita no Brasil, por décadas, era considerado pecado.
O quarto conflito posto está localizado entre os movimentos de renovação da política e os bolsões tradicionais, que pretendem manter o monopólio da representação. Nessa guerra, os aliados podem ser até mesmo os adversários ideológicos, já que todos estão unidos para manter a prevalência dessa representação e da precária renovação.
O quinto conflito reside na intenção — consciente e inconsciente — da Operação Lava Jato de destruir a política, ainda que tal intenção não seja revelada expressamente. Sem entrar no mérito das motivações, a destruição da política leva à não política, que nada mais é do que a barbárie.
A Lava Jato propõe a destruição da política, cuja intenção é amplificada pela abordagem anti-política da mídia. O resultado mais óbvio é a liderança eleitoral de dois candidatos anti-política. E, como disse que Eduardo Gianneti, quando a criação do novo está em jogo, nada mais irracional do que ignorar os limites da razão.
Enfim, uma leitura mais atenta da conjuntura nos revela que a disputa eleitoral encobre muitas outras disputas sub-reptícias. E a mídia, como parte do processo, não pontua claramente o que acontece. Faz parte do conflito.
Essas eleições não refletem apenas uma disputa entre dois polos de poder (PT e PSDB), conforme ocorre desde 1994