Considerando, no cenário atual, a força das pré-candidaturas possíveis à Presidência da República nas eleições de 2014 (Dilma Rousseff – PT; Aécio Neves – PSDB; e Eduardo Campos-Marina Silva – PSB), a tendência é que a eleição seja decidida no segundo turno.
Portanto, Aécio Neves e Eduardo Campos travam, desde já, intensa disputa pelo posto de adversário de Dilma no segundo turno. Semana passada, o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, afirmou que "é ele [Aécio] que eu preciso afastar e impedir o crescimento".
Analisando os dados apresentados pela última pesquisa Datafolha (11 de outubro), é possível afirmar que Eduardo Campos e Marina Silva têm, hoje, mais chances de ir para o segundo turno do que Aécio Neves. Olhemos para os números.
Entre os candidatos listados pelo Datafolha, os mais conhecidos pelos brasileiros são Dilma Rousseff (99% a conhecem, sendo que 56% muito bem, e 33%, um pouco) e o ex-governador de São Paulo José Serra (97% o conhecem, sendo que 40% muito bem, 34%, um pouco, e 23%, só de ouvir falar).
O menos conhecido é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (57% o conhecem, sendo que só 8% muito bem, enquanto 17% o conhecem um pouco, e 31%, só de ouvir falar). A ex-senadora Marina Silva é conhecida por 88% (23% a conhecem muito bem, 35%, um pouco, e 31% a conhecem só de ouvir falar). O senador mineiro Aécio Neves é conhecido por 78% dos brasileiros, que se dividem entre os que o conhecem muito bem (17%), um pouco (25%) e só de ouvir falar (35%).
A diferença de conhecimento entre Aécio (78%) e Campos (57%) é de 21 pontos percentuais. Entretanto, de acordo com o Datafolha, Aécio tem 21% de intenções de voto e Eduardo tem 15%. Ou seja, potencialmente, há mais espaço de crescimento para Eduardo que Aécio.
Outro fator interessante é o peso do vice. Nesse caso, impressiona a força de Marina. O Datafolha simulou um confronto entre as chapas de Dilma como candidata a presidente e Michel Temer (PMDB) como vice contra a chapa do PSB, alternando Marina e Campos como cabeça de chapa e vice.
Hoje, a chapa com Marina candidata a presidente tendo Campos como vice é mais forte: teria 42% das intenções de voto, em situação de empate técnico com Dilma/Temer (44%). Quando Campos aparece como candidato a presidente e a ex-senadora como vice, eles obtêm 37% das intenções de voto, ante 46% de Dilma e Temer. O curioso é que, sem mencionar os vices, Dilma aparece com 42%, Aécio com 21% e Eduardo com 15%.
Esses índices mostram que, caso o PSDB decida de fato concorrer com Aécio Neves, terá que escolher um vice bom de voto. A imprensa veiculou que Aécio cogita fazer uma chapa puro-sangue com José Serra.
Serra, ainda de acordo com o Datafolha, é o mais rejeitado dos presidenciáveis pelos brasileiros: 36% não votariam nele de jeito nenhum. A seguir, com índices próximos de rejeição, aparecem Dilma (27%), Eduardo
Campos (25%) e Aécio Neves (24%). A ex-senadora Marina Silva é rejeitada por 17%. Outro dado importante é que Marina Silva é melhor cabo eleitoral do que Serra. Em relação à influência da ex-senadora, 17% afirmam que votariam com certeza em um candidato à Presidência apoiado por ela; outros 39% talvez votariam pensando nesse apoio.
O apoio do tucano José Serra a algum candidato levaria 15%, com certeza, a escolherem esse nome, e 25% talvez votariam em alguém apoiado por ele. A maioria (54%), contudo, não votaria em um candidato apoiado pelo ex-governador de São Paulo. Isso ocorre também quando o apoio vem de FHC: 58% não votariam em um candidato escolhido pelo ex-presidente.
Apesar de Serra poder ajudar Aécio Neves em São Paulo, o ex-governador poderá beneficiar Eduardo Campos e Marina Silva a se posicionarem como o "novo", caso decida ser o candidato a vice-presidente na chapa de Aécio. Isso pode ocorrer porque a entrada de Serra no debate eleitoral como candidato na chapa do PSDB ajudaria Eduardo e Marina a rotularem o embate entre PT x PSDB como "velho".
Vale lembrar que Serra, além de ter sido o adversário de Dilma na eleição de 2010, foi também o principal antagonista de Lula em 2002. Ou seja, das três últimas eleições presidenciais, Serra foi o representante do PSDB contra o PT em duas ocasiões.
Outro fator que reforça a tendência de que Eduardo Campos esteja no segundo turno é que a memória da maior parte da população em relação à gestão do PSDB não é positiva. Já Eduardo Campos e Marina não são vistos como oposição, mas como algo novo e uma alternativa à polarização PT-PSDB.
Nas últimas semanas, o PSB conseguiu atrair bastante a atenção da mídia com fatos positivos. Primeiro, ao decidir deixar a base aliada. Segundo, ao entregar os cargos que tinha no governo federal. E, por fim, ao filiar Marina Silva, candidata à Presidência da República em 2010 que conseguiu amealhar 20 milhões de votos na época.
Já o PSDB parece correr atrás do prejuízo. Ainda há tempo para a legenda reverter a possibilidade de ficar de fora do segundo turno, até porque o partido tem fortes candidatos em dois colégios eleitorais (São Paulo e Minas Gerais). Mas a legenda precisa ser mais proativa.