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Dilma fala

A edição de domingo da Folha de São Paulo trouxe uma longa entrevista com a presidente Dilma Rousseff, que falou sobre as manifestações de junho, reafirmou sua relação "indissociável" com o ex-presidente Lula, defendeu a reforma política, descartou reduzir a equipe ministerial, assim como realizar mudanças na equipe econômica.

Na mesma linha do discurso adotado por Lula, Dilma classificou os protestos como o resultado de demandas que surgem por conta dos benefícios econômicos e sociais gerados pelos 10 anos de governos do PT (e não como uma insatisfação dos brasileiros com o atual governo).

Diante dos pedidos de setores do PT e alguns aliados e empresários pelo "Volta, Lula", a presidente Dilma Rousseff aproveitou a entrevista para descartar a possibilidade. Ao mesmo tempo, frisou que não há como dissociar ela do o ex-presidente; "Eu e Lula somos indissociáveis. Então esse tipo de coisa, entre nós, não gruda, não cola. Lula não vai voltar porque ele não foi. Ele não saiu", afirmou.

Vale lembrar que, na última pesquisa CNI/Ibope, o percentual dos eleitores que consideram os dois governos (Lula e Dilma) iguais caiu de 57% para 42%. Por outro lado, já atinge 46% (antes era 25%) o percentual dos que avaliam que o governo Dilma é pior que gestão Lula. Esses números são um indicativo que uma parcela dos eleitores pode estar dissociando o ex-presidente da presidente. Como Dilma representa o legado de Lula, é importante que essa associação seja retomada.

A redução dos ministérios, proposta pelo PMDB e também pela oposição, foi descartada por Dilma. Sua rejeição em reduzir ministérios pode ser explicada por dois aspectos: 1) o governo não quer ceder a uma proposta, inicialmente, lançada pela oposição; 2) o Planalto teme o impacto negativo do fim dessas pastas sobre os setores que defendem as chamadas minorias, sobretudo dentro do PT.

Outras declarações importantes de Dilma Rousseff na entrevista foram relacionadas à economia. Dilma descartou mudanças na equipe econômica e reafirmou sua confiança no ministro Guido Mantega. "O Guido está onde sempre esteve: no Ministério da Fazenda", afirmou.

A presidente também rebateu os indicadores que apontaram uma redução no número de postos de trabalho criados apostando na comparação com o governo FHC. Dilma Rousseff disse que foram criados 4,4 milhões de empregos nos seus três anos de governo contra 824 mil dos oito anos de gestão FHC.

As críticas recebidas pelo governo sobre o crescimento da inflação também foram rebatidos por Dilma Rousseff. Sobre isso, ela lembrou o recuo do IPCA-15 em 0,07% em julho.

Bastante criticada por especialistas, a situação econômica do país foi defendida pela presidente. Ela lembrou que mesmo com uma situação externa adversa, a estabilidade está sendo mantida, assim como o cumprimento da meta de inflação. Sobre o baixo crescimento afirmou: "O mundo cresce pouco. Não somos uma ilha".

Na entrevista concedida a Folha, pode-se perceber algumas ações estratégicas da presidente: 1) a tentativa de "vender" os protestos como um reflexo dos avanços dos últimos anos, que teriam criado novas demandas, e não uma insatisfação da população com o governo; 2) colar sua imagem a de Lula; 3) descartar, a curto prazo, redução dos ministérios para não criar expectativas; 4) utilizar a comparação dos governos do PT e PSDB na área social para debater criticas nessa área; 5) respaldar a política econômica e, consequentemente, Guido Mantega no Ministério da Fazenda; 6) dar início à construção de uma agenda econômica positiva, apostando no aumento dos investimentos como uma bandeira para sua gestão (hoje, a única marca do governo é o fato de representar o legado de Lula).