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A confirmação, semana passada, da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, atingido por um rojão durante um protesto no Rio de Janeiro (RJ), começou a ter importantes desdobramentos no meio político.
 
Na semana passada, o senador Jorge Viana (PT-AC) defendeu a votação urgente do projeto que tipifica os crimes de terrorismo. “é evidente que nós temos, junto das manifestações (e aí eu faço a diferença), a ação de bandidos, de criminosos. E esses bandidos, esses criminosos, parte deles inclusive mascarada, têm de ser tratados como criminosos, como bandidos. Não é preciso esperar que eles matem. Uma pessoa que vai para uma manifestação mascarada, com artefatos, com pólvora, com bomba na mão, tem que ser preventivamente presa”, disse Viana.
 
A ampla comoção e a repercussão provocadas pela morte de Santiago Andrade criou uma forte pressão da imprensa contra os chamados black blocs.
 
Apesar da iniciativa de Jorge Viana, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), afirmou, também na semana passada, que o Projeto de Lei Antiterrorismo deve começar a ser discutido, mas em seguida deve sair da pauta. Segundo Costa, a ideia é buscar um texto de consenso, antes de levar o projeto para votação.
 
Como o Palácio do Planalto teme que durante a Copa do Mundo se repitam os protestos de junho do ano passado, que provocaram uma queda vertiginosa da popularidade da presidente Dilma Rousseff, a discussão desse projeto pode ser utilizada pelo PT para estigmatizar novas manifestações.
 
As manifestações pacíficas não são temidas. Mas o Planalto teme novos atos de vandalismo em função da infiltração de grupos extremistas nos protestos pacíficos (conforme ocorreu em junho de 2013), o que elevaria o clima de insegurança nas ruas e levaria a mídia a criar uma pauta negativa no período da Copa.
 
Assim, a discussão do Projeto de Lei Antiterrorismo poderá ser “retida” pelo Senado para que o governo disponha de uma resposta à opinião pública, caso ocorram novos atos de vandalismo durante o maior evento esportivo de futebol do planeta.
 
Por trás disso, há a preocupação do Planalto de evitar o surgimento de pautas negativas que possam provocar abalos no atual favoritismo de Dilma.
 
Os esperados protestos de rua durante a Copa podem, no entanto, sofrer um esvaziamento. Setores importantes da classe média com perfil mais conservador tendem a “repensar” sua participação nas manifestações por temerem atos de violência patrocinados por grupos extremistas interessados em fabricar um ambiente de insegurança.