Com o vice-presidente Michel Temer na articulação política, o governo conseguiu barrar duas CPIs no Senado com grande potencial para tumultuar ainda mais o ambiente político. O Planalto venceu a disputa de bastidores com a oposição e, por ora, conseguiu evitar novos focos de desgaste.
Um deles seria a CPI do BNDES, que pretendia investigar a concessão de empréstimos a grandes empresas, principalmente construtoras que realizaram obras no exterior. As empreiteiras beneficiadas também estão implicadas na Operação Lava-Jato da Polícia Federal, que investiga esquema de corrupção na Petrobras. Para o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), proponente da CPI, a investigação sobre o BNDES seria mais explosiva que a da Petrobras.
Caiado protocolou o requerimento com 28 assinaturas, uma a mais que o mínimo necessário para a criação da Comissão. No entanto, o governo agiu para que seis senadores retirassem o apoio ao pedido e, assim, inviabilizou sua instalação. Caiado afirmou que vai tentar coletar novamente as assinaturas que faltam.
O outro pedido que o governo conseguiu derrubar foi o formação da CPI do fundos de previdência privada de empresas públicas, proposta pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB). O propósito seria investigar desvios milionários nos fundos de pensão dos Correios (Postalis), da Petrobras (Petros), do Banco do Brasil (Previ) e da Caixa Econômica (Funcef) a partir de 2003, período dos governos Lula e Dilma Rousseff. O PT e o PMDB possuem grande influência na administração desses fundos.
O pedido de Aloysio deu entrada com 32 assinaturas, mas o contra-ataque governista fez com que esse número caísse para 26, um a menos que o necessário. A ação evidenciou uma possível reaproximação do governo com o PSB, que se declara oposição. Das seis assinaturas retiradas, cinco foram de senadores socialistas. Tal como no pedido da CPI do BNDES, a oposição tentará novamente emplacar a CPI dos fundos de pensão.
Embora exitosa em grande parte, a investida do governo não evitou a criação da CPI do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), órgão do Ministério da Fazenda que julga ações contra multas aplicadas pela Receita Federal. O pedido protocolado pelo senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) refere-se à apuração de esquema de fraudes em julgamentos do órgão, conforme revelado pela Operação Zelotes da Polícia Federal. A investigação da PF já comprovou prejuízos de R$ 6 bilhões aos cofres públicos.
Com mais essa CPI, o Senado terá quatro comissões de inquérito em funcionamento. Para evitar outras, senadores governistas se valem do argumento de que muitas comissões funcionando em paralelo podem comprometer os resultados, pois não haveria como se dedicar a várias investigações cumulativamente às demais atividades parlamentares.