Logo após a Páscoa, o Congresso deve começar a votar a “pauta expressa”, combinada entre os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, com pelo menos dois itens: reforma política e medidas destinadas a arejar o ambiente econômico. A intenção é dar caráter de urgência aos temas ali acolhidos para dar respostas rápidas às manifestações (a próxima está programada para o dia 12).
Se as negociações para a votação do ajuste fiscal se arrastarem e as divergências com o Executivo se intensificarem, esse tema também deve entrar na pauta rápida do Congresso. A iniciativa partiu do PMDB, depois de uma semana de embates com o governo por causa de duas leis.
Uma das leis, de autoria do partido, visava neutralizar a facilidade de movimentos do governo para criar um partido de centro-esquerda destinado a fortalecer a sua base em detrimento dos peemedebistas. O Planalto demorou a sancioná-la, de forma a dar tempo às manobras de Gilberto Kassab, ministro das Cidades, e foi duramente atacado pelo PMDB.
A outra lei, do ano passado, trata da renegociação da dívida de estados e municípios, cuja regulamentação já deveria ter entrado em vigor, mas o governo queria mantê-la na gaveta sob o argumento de que põe em risco o ajuste fiscal.
O Congresso dificultou as coisas para a presidente, obrigando-a a recuar, e apropriou-se da agenda legislativa. Os ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa, da área econômica, assumiram a coordenação política, com previsíveis desacertos políticos.
Sem interlocutores competentes no Congresso, será impossível superar os problemas que travam o segundo mandato da presidente Dilma desde o dia seguinte à posse. Nem encaminhar uma solução política para a crise econômica, conforme aconselhou o ex-presidente José Sarney numa roda de convivas que celebravam o aniversário da senadora Marta Suplicy, no final da semana passada.
Renan e Cunha criaram o canal e o conteúdo para explorar esse caminho. Falta a adesão do governo e uma mudança de atitude capaz de harmonizar esses interesses.