Logo depois das eleições, o PMDB percebeu uma estratégia em curso do Executivo e do PT de reduzir a influência do PMDB no governo. O plano era, aparentemente, perfeito e composto pelas seguintes etapas: 1) derrotar Eduardo Cunha na eleição para a presidência da Câmara; 2) incentivar a criação de uma nova legenda (PL); 3) estimular uma nova fusão com o PSD de Gilberto Kassab (ministro das Cidades).
A fusão PSD-PL atrairia deputados e senadores de outras legendas, em especial do PMDB. A nova realidade partidária deixaria a presidente Dilma Rousseff menos dependente do aliado incômodo.
Não deu certo. Primeiro Eduardo Cunha derrotou o PT, de forma espetacular, já no primeiro turno na disputa pela Câmara. Com rapidez surpreendente, o Congresso aprovou uma lei dificultando a criação de novas legendas e dizendo que somente poderia haver fusão entre partidos com mais de cinco anos de existência.
O governo deu o troco ao PMDB. Segurou o quanto pôde a sanção do projeto de tal forma que deu tempo ao PL de solicitar seu registro na Justiça Eleitoral com base na legislação anterior, com menos rigor para a criação de novas legendas. Mais: vetou a janela de 30 dias que permitia aos parlamentares migrar para partidos resultantes de fusão sem perda de mandato. O veto, segundo peemedebistas, prejudica projetos de fusão em discussão envolvendo DEM, PTB e o próprio PMDB.
Resultado: a manobra provocou a ira do PMDB mais uma vez e a relação entre os dois principais partidos da base piorou.
O PL pode até obter seu registro na Justiça Eleitoral. Porém, não deve conseguir completar seu plano inicial, que era promover uma fusão com o PSD. Isso porque continua válido na lei dispositivo que somente permite a fusão entre legendas com mais de cinco anos de vida. Ou seja, o processo de criação do PL foi feito antes da sanção da lei, mas sua fusão apenas acontecerá depois, dentro do novo marco legal.
O PMDB deve impor uma nova derrota para a presidente Dilma, derrubando o veto referente à janela de 30 dias. O episódio serviu para quebrar ainda mais a confiança do PMDB no PT. Dificilmente ela será restabelecida e o grau de atrito deve continuar elevado.