IstoÉ – 21/10/2016
Por Murillo de Aragão
Em sistemas em que alguns são muito mais poderosos que outros, estabelece-se uma situação despótica e de prevalência de interesses específicos sobre o bem comum. Com a redemocratização do País, ampliou-se o número de atores no jogo do poder. De lá para cá, cada vez mais a sociedade se envolve na defesa de seus interesses específicos.
Em 2013 tivemos um ponto de inflexão: a partir de manifestações específicas, o povo começou a se manifestar acerca de temas gerais. Foi um sintoma claro de mudança. Na agenda de reclamos, além do aumento do preço das passagens de ônibus, havia corrupção, qualidade de serviços públicos, violência, entre outros. Uma pauta abrangente que não envolvia apenas os manifestantes de sempre. O movimento culminou com as imensas manifestações a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que embutiam um repúdio generalizado a práticas inadequadas de governo, à corrupção, ao fracasso econômico e à ausência de perspectivas positivas.
Em 2016, o nível de abstenção nas eleições municipais nas grandes capitais foi mais elevado do que o normal. Paradoxalmente, a política importa mais e interessa mais. A própria abstenção envolve uma mensagem política importante de repúdio a um sistema que não atende às expectativas.
O que gerou o crescente aumento de interesse pela política?
O surto de 2013 foi ampliado pela repercussão das investigações da Operação Lava-Jato, que, de certa forma, causam um impacto econômico, social e político gigantesco. A Operação Lava-Jato foi decisiva para o impeachment de Dilma Rousseff. Mas não apenas isso. O impacto provocado pela operação foi mais além. Está mudando a forma de a sociedade ver a política e de como se posicionar na defesa de seus interesses. O impeachment foi apenas consequência.
Vem muito mais por aí. O impacto súbito da Operação Lava-Jato na conjuntura política e a tendência de maior interesse e participação da sociedade no jogo do poder vão provocar mudanças profundas no País.
Tudo tendo como pano de fundo a crescente relevância da inserção do Judiciário na vida nacional com a consequente judicialização da política.