Por Murillo de Aragão
Publicado no Blog do Noblat – 12/05/2016
Quando escrevo este artigo, o Senado Federal caminha para afastar Dilma Rousseff do poder. É o fim de uma crônica da morte anunciada. O governo Dilma estava a fadado a morrer. Hoje ou depois. Das pedaladas de antes ou pela obstrução da justiça de agora. Não tinha escapatória.
O que esperar de Michel Temer? Primeiro, devemos ajustar as nossas expectativas. Não podemos esperar aquilo que o governo não pode entregar. Também não podemos deixar de considerar o sistema político que temos.
Considerando que o impeachment será confirmado definitivamente, teremos dois e pouco de um governo de transição. Não é muito tempo. Mas é suficiente para restabelecer a confiança na economia.
Outro fator é o regime político do país. Vivemos um presidencialismo de coalizão que se sustenta na boa relação do presidente com o Congresso. Se o relacionamento for equilibrado e respeitoso, muito pode ser feito.
Assim, nossas expectativas devem ser ajustadas para o nível básico da realidade. O governo Michel Temer poderá ser excepcional se nossas expectativas forem realistas e ele souber usar os recursos que tem.
Temer sabe que o Brasil tem dois desafios imediatos. Recuperar a credibilidade fiscal do país e destravar os investimentos. De certa maneira, são desafios factíveis de serem alcançados se forem bem trabalhados e existir um bom relacionamento com a base política.
Em tese, qualquer agenda pode ser encaminhada desde que seja bem preparada. Mesmo a reforma previdenciária pode avançar se a proposta for bem explicada para a cidadania; que atinja inicialmente os funcionários públicos e que existam regras claras de transição.
A aprovação de um limite constitucional para os gastos públicos e da renovação da DRU – Desvinculação das Receitas da União também podem ser alcançadas. Desde que o relacionamento político seja sólido.
A base do sucesso do governo Temer está em observar as razões do fracasso do governo Dilma. Uma das razões mais óbvias foi o distanciamento que o governo manteve de sua base. Na hora que precisou dos deputados, se aproximou de forma oportunista. Não funcionou.
Dilma avançou e recuou em muitas de suas iniciativas. Passou falta de clareza e ausência de rumos. Sua comunicação foi caótica. Quando não era patética. Sua liderança nunca se afirmou apesar do repertório de grosserias. Tudo o que não se espera do novo presidente.
Em mantendo clareza de propósitos, uma boa e sincera comunicação social e um diálogo permanente com a base política, Temer poderá consolidar sua presidência e fazer uma boa gestão. É uma expectativa realista.