Blog do Noblat – 27/08/2015
O quadro atual de ampla e incômoda incerteza tem sua origem nos dilemas e nas ambiguidades que os três principais partidos do país e suas lideranças enfrentam no momento.
Os dilemas e as ambiguidades do PT estão presentes em três desafios: salvar o governo, salvar a presidente Dilma Rousseff e manter o ex-presidente Lula viável como opção presidencial em 2018.
No PMDB, também são três os dilemas: dar sustentação ao governo Dilma, abandonar o barco e, ainda, salvar a pele de seus líderes dos ecos do Petrolão.
No PSDB, os dilemas são menores, mas não menos importantes: apoiar o impeachment agora ou tentar cozinhar o governo Dilma até que ele morra de morte natural.
Claramente, os dilemas que se apresentam são carregados de ambiguidades. Consta que Jaques Wagner, ministro da Defesa, teria dito que não dá para salvar, ao mesmo tempo, o PT e o governo Dilma.
No caso da oposição, o dilema é bem mais simples: acelerar ou não o processo de impeachment. Mesmo assim, como é tradicional entre os tucanos, a união de propósitos não resulta em união de discurso.
Dilma, pelo seu lado, já fez sua escolha: salvar seu mandato. Para tal, avalia que está sacrificando sua popularidade hoje para encerrar seu governo em bom estado. Confia que a crise econômica vai amainar e que poderá retomar o controle da agenda.
Lula e o PT ainda não se decidiram. Tentam uma fórmula que salve os três juntos: o partido, o governo e Lula. Ou, pelo menos, Lula e o PT que representa uma tentativa de futuro. Tarefa difícil.
O PMDB está completamente dividido. São três lideranças puxando para direções diferentes. Eduardo Cunha, presidente da Câmara, aposta no antipetismo e na radicalização para se salvar do andamento do Petrolão.
Renan Calheiros, presidente do Senado, aposta em elevar o nível de sua atuação para robustecer a institucionalidade de sua posição e poder dialogar em melhores condições com os desdobramentos da Operação Lava-Jato.
O vice-presidente Michel Temer tenta preservar a unidade do PMDB no apoio à governabilidade. Mas sabe que está emparedado pela hostilidade do ambiente palaciano e pelas estripulias de Eduardo Cunha.
Nenhum dos dilemas é de simples solução. Para piorar, temos um tenebroso pano de fundo composto pelo Petrolão e pela crise econômica.
No âmbito do Petrolão, novas notícias podem agravar a situação dos atores mencionados. A leva de novas delações é potencialmente devastadora. Em especial, para o PT e o PMDB.
Em algumas semanas, a Procuradoria-Geral da República estará mandando mais uma leva de denúncias contra políticos ao Supremo Tribunal Federal. Será um período de muito esperneio e ranger de dentes. Mais confusão.
O quadro econômico e o desânimo que assola o país podem agravar muito a tensão social e aumentar a pressão da sociedade por soluções para o campo da economia. Ainda mais que teremos, adiante, dissídios salariais para serem definidos em um quadro de inflação, baixo crescimento e desemprego.
Considerando os dilemas e as ambiguidades que se apresentam, temos uma situação típica de paralisia. Quer dizer, de andamento em câmera lenta.
Os atores lutam por seus interesses, mas sabem que estão indo a lugar nenhum. Caminham em terreno movediço e pantanoso, em que não há solução à vista nem na prateleira para seus dilemas. Ao mesmo tempo, surpresas podem inviabilizar qualquer solução que esteja sendo gestada.
De certa forma, é a crise política mais complexa, em muitas décadas, a desafiar o país.