Pela primeira vez, desde o início da crise, juntaram-se dois elementos altamente corrosivos, fazendo com que se tenha perdido qualquer perspectiva de horizonte político: fortes ataques de Lula ao PT e ao governo e denúncia de uso de caixa 2 na campanha de reeleição da presidente. Dilma reagiu de forma olímpica aos ataques do criador e de maneira burocrática ao escândalo.
A mídia publicou o depoimento ao Ministério Público do delator Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, informando ter feito doações por meio de caixa 2 a campanhas do PT que somaram mais de R$ 10 milhões em diferentes períodos, incluindo 2014.
A gravidade da denúncia contribui para a erosão da legitimidade, mas do ponto de vista prático será preciso caracterizar uma situação concreta, apoiada por provas consistentes, para que o mandato da presidente seja ameaçado. O papel do Superior Tribunal Eleitoral (TSE) é mais controlador do que judicial. Basta o partido demonstrar que arrecadou o suficiente para pagar as despesas e que a origem do dinheiro é legal. É muito difícil provar a existência de caixa 2. Se se conseguir, o Ministério Público ou um adversário pode entrar com uma ação para impugnar o mandato da presidente. A autorização para o processo junto ao Supremo tem que ser aprovada pela Câmara dos Deputados.
Esse clima de risco para a governabilidade configurou-se dias depois que o ex-presidente Lula fez fortes críticas à presidente e ao PT, assumindo o papel de líder da oposição. Dilma ignorou a safra de más notícias. Quando enfrenta seu pior momento de desgaste, a presidente está nos Estados Unidos para uma visita de retomada do difícil relacionamento entre os dois países.
Viajou na companhia do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, homem forte do governo e um dos poucos entre aqueles que comandam o ajuste da economia a estar longe da Operação Lava-Jato. A outra pessoa poupada, pelo menos diretamente, a própria presidente, que tem exibido uma imagem despreocupada e até aqui tem apoio das agências de risco ao ajuste. Uma comparação que guarda boa proximidade da realidade diria que Dilma é uma espécie de Sarney sem hiperinflação. Vai levando.