Superávit
30 de outubro de 2012
Micou
1 de novembro de 2012
Exibir tudo

Comprando inteligência

 

Os cortes orçamentários na Europa provocaram um importante manifesto por parte de vários agraciados com o Nobel. Assinam o documento André Geim (física, 2010), Martin Evans (medicina, 2007), John Walker (química, 1997), entre muitos outros luminares. Eles perguntam qual será o papel da ciência no futuro da Europa, a partir da dramática redução do orçamento para pesquisa.

Os pesquisadores partem do princípio de que a crise europeia, ao invés de ensejar atitudes conservadoras, deveria estimular soluções criativas. Pelo simples fato de que representa uma imensa oportunidade: por meio da ciência, soluções para a economia e para outros problemas do mundo poderiam ser alcançadas. Eles afirmam, ainda, que a Europa não pode se dar o luxo de perder seus cientistas.

Na Inglaterra, o endurecimento das regras de controle da imigração está causando outro efeito negativo: a perda de estudantes com potencial para vitalizar a economia por meio de iniciativas inovadoras. No lugar da tradicional permissão de dois anos para trabalhar no país após completar o curso, as novas regras dão apenas alguns meses para que o formando encontre alguém que esteja disposto a lhe pagar.

Nos Estados Unidos, o livro The imigrante exodus, de Vivek Wadhwa, está causando grande impacto por alertar para o fato de que o país está perdendo a capacidade de atrair talentos, para estudar ou trabalhar.

Canadá e Austrália vão na contramão dos Estados Unidos e do Reino Unido. No Canadá é permitido que estudantes de mestrado trabalhem pelo menos por três anos no país. A Austrália estimula tanto a ida de estudantes para lá quanto investe na criação de novas empresas e na vitalização do mercado de trabalho com imigrantes. O Chile estabeleceu um ambicioso programa de estímulo para novas companhias na área da informática e da inovação.

O Brasil, com o programa Ciência sem Fronteiras, dá um passo importante para robustecer o processo de aquisição de conhecimento no exterior. Porém, os cortes orçamentários da Europa e o endurecimento das regras no Reino Unido e nos Estados Unidos deveriam nos levar a posturas mais agressivas ainda na captação de pesquisadores, estudantes e empreendedores no exterior.

O Brasil trouxe pesquisadores e especialistas da antiga União Soviética nos anos 90. Não sabemos qual foi o impacto da iniciativa, porém, com vários pesquisadores reclamando de corte de verbas na Europa, o Brasil deveria criar um programa para atraí-los de forma consistente. Algo nos moldes do que foi feito na USP nos anos 50.

No âmbito do empreendedorismo, o caminho a ser seguido é semelhante: ampliar as oportunidades de crédito, reduzir a burocracia e oferecer oportunidades para quem queira investir em negócios no Brasil. Outra iniciativa seria a implementação de um agressivo programa de compras de empresa de tecnologia.

As opções são claras. Comprar empresas de ponta no exterior. Atrair empreendedores do mundo todo. Atrair estudantes. Mandar estudantes brasileiros para o exterior. Importar professores e pesquisadores. Promover, enfim, um ambiente favorável à criatividade, à inovação e à geração de conhecimento.