A base da humanidade reside na informação. Seu desenvolvimento como raça está visceralmente ligado à qualidade da informação e do meio em que esta é transportada. Países avançaram ou se destruíram a partir da informação. Nesse sentido, a morte no campo de batalha foi apenas, infelizmente, um detalhe sórdido. O que decidiu a morte de milhões foi mesmo a qualidade da informação.
A Segunda Guerra Mundial, conflito mais estudado da história, é recheada de exemplos em que a informação fez a diferença. Seja como informação mesmo, seja como contrainformação, que é a informação distorcida e destinada a criar falsas expectativas.
Na Batalha da Inglaterra, em 1940, os alemães acreditavam que os ingleses tinham mais aviões do que realmente tinham. Assim, calcularam erradamente o tamanho da frota a partir das perdas. Pouco antes, Churchill pedira ao primeiro-ministro japonês, Tojo, que fizesse uma reflexão sobre o potencial bélico e industrial dos aliados antes de entrar na guerra ao lado dos alemães.
Churchill concluiu sua carta dizendo que as respostas sinceras às suas indagações levariam os japoneses a não entrar na guerra. Ele tinha mais informações do que Tojo e melhor possibilidade de análise. Antecipou as condições que propiciariam o desastre japonês no conflito.
Cingapura é um exemplo do bom uso da informação. Cientes de que podiam ser varridos do mapa com facilidade tanto pela Malásia quanto pela China, os cingapurenses souberam se inventar como cidade-nação. Decidiram manter a estrutura educacional inglesa das “grammar schools” e investiram muito em conhecimento. Hoje é o país com mais milionários do planeta e o quarto centro financeiro do mundo, além de liderar vários setores industriais e tecnológicos.
Apesar dos avanços sociais e econômicos, o Brasil caminha a passos lentos. Ainda estamos em meio à solução de problemas graves lutando contra o voluntarismo egoísta de nossa política e o debochado desinteresse de parte expressiva das elites com relação ao governo e às políticas públicas.
O sistema público educacional foi destruído nos anos 60 e demora a ser reconstruído. As universidades oscilam entre a baixa qualidade e o corporativismo que as paralisam de tempos em tempos. Poucas são de primeira linha. Os grandes debates giram em torno de verbas.
Sem educação adequada, no Brasil passamos a depender da informação que circula na mídia. Aprendemos na televisão a ser consumidores, mas não cidadãos.
Além da problemática da educação e da informação, podemos acrescentar outra questão: a opacidade dos poderes públicos para a cidadania. Apenas recentemente o governo ampliou o seu nível de transparência. Mesmo assim, ainda é um dos mais opacos entre as maiores economias do mundo.
Em que pesem os avanços expressivos de nosso país nas últimas três décadas e as boas expectativas econômicas para os próximos anos, corremos o risco de ter uma sucessão de voos de galinha. Por conta da baixa qualidade de nossa educação e, sobretudo, da precariedade da informação que circula por nossa sociedade.
Nosso mais grave limitador não é o modelo que escolhemos, com bases em políticas keynesianas. Viveremos muitas décadas dependentes de o Estado atuar na economia antes de alcançarmos um estágio econômico de menos dependência estatal.
A batalha a ser travada nos próximos anos não é econômica, já que o mapa está dado e pode ser promissor. Temos dois campos claros de enfrentamento: a educação, visando melhorar a qualidade da formação do cidadão e, por conseguinte, seu discernimento; e a informação, visando maior pluralidade e melhor qualidade.
Trata-se de um debate inescapável para que o país dê um salto de qualidade para o futuro.