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Viva a rainha e morte ao mal governo

Uma das aparentes contradições do momento é a dicotomia entre as sensações relacionadas ao governo.

Para a imensa maioria da população, o país vai bem e as iniciativas da presidenta são bem-recebidas. Para segmentos específicos do alto empresariado, a avaliação varia de acordo com o setor e sua conexão com a dinâmica do momento. Já para os aliados políticos, o sucesso do governo chega na forma de uma brisa discreta e pouco acolhedora: a insatisfação é grande por conta de demandas não atendidas e de diálogos que não acontecem na intensidade e na frequência desejadas.

Porém, nada disso parece ser importante. A popularidade de Dilma é crescente e deve continuar assim.

Como explicar? Dois aspectos são relevantes. Um deles é o fato de que a agenda da presidenta está em sintonia direta com o que pensa a grande maioria da população. E em que pensa a grande maioria da população? Resumindo em três palavras: trabalho, renda e consumo.

As outras coisas são importantes, mas nem tanto, desde que as três palavras mágicas circulem positivamente na sociedade. E o governo, perante as expectativas dos cidadãos, se sai bem no que tange a essas palavras.

O outro aspecto reside na profunda descrença com relação às instituições. No Brasil, a presidenta goza de mais prestígio do que seu governo, o sistema Judiciário, o Congresso Nacional e os partidos políticos. Perde apenas para os Corpos de Bombeiros, a Igreja, as Forças Armadas e os veículos de comunicação, conforme o índice de Confiança Social do Ibope.

A descrença nas instituições governamentais termina favorecendo o fenômeno de que tudo de bom que o governo faz é creditado na conta da presidenta, já que, para a maioria, o governo é incompetente, pesado, lento e burocrático.

Para muitos, se não fosse uma presidenta que faz as coisas acontecerem, a realidade seria muito pior. No final das contas, isso estabelece um ciclo virtuoso de prestígio personalista, o que turbina a popularidade da presidenta e transforma o sucesso de sua gestão em um evento não institucional.

A situação de dependência personalista em que vivemos deve persistir por algumas décadas, ainda que as instituições estejam em lento processo de fortalecimento. No entanto, temos dois graves obstáculos no caminho da institucionalização plena: a baixa qualidade da participação da sociedade no processo político e a colonização corporativista de muitas das instituições públicas.

Infelizmente, são problemas que não serão resolvidos no curto prazo e que demandam uma melhoria substancial na educação política do povo e na consciência da cidadania, com seus direitos e deveres.

A consciência da cidadania ainda é um processo em lenta construção. Principalmente para uma população que passou décadas vivendo num país de crescimento pífio e com índices de desigualdade extraordinários. Daí trabalho, renda e consumo serem muito mais importantes, por exemplo, do que a existência de serviços públicos eficientes ou de um sistema tributário justo.

Enquanto for assim, a maioria não se importará em dar vivas aos reis ou rainhas e desejar tudo de mau para os governos. Desde que o monarca esteja em sintonia direta com a agenda do momento.