Durante décadas, os bancos foram os atores mais relevantes da política nacional. Tanto por meio de generosos financiamentos de campanha quanto por meio da exploração inteligente da dependência ao Tesouro Nacional para rolar suas dívidas. Além de terem influenciado decisivamente, para o bem de todos e para o bem do setor, na adoção de planos e posturas econômicas que, no fim das contas, trouxeram estabilidade, previsibilidade e credibilidade às contas nacionais.
O sistema financeiro privado, por meio de uma aliança com o estatal, foi hábil o suficiente para limitar a entrada dos bancos estrangeiros na Constituinte de 1988 e, assim, manter seu oligopólio razoavelmente protegido. Em novembro de 1995, quando o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) entrou em vigor, mais uma vez o sistema financeiro foi beneficiado e, de forma sábia, o governo evitou que este entrasse em colapso. No período de 1995 a aproximadamente 2000, foram destinados em títulos de longo prazo mais de R$ 30 bilhões a bancos brasileiros
Na campanha de Lula para a Presidência da República em 2002, parte majoritária do sistema apoiou o candidato José Serra (PSDB) abertamente, pois se temia que o governo petista pudesse ser heterodoxo demais com os bancos. à medida que as intenções de voto no candidato do PT aumentavam, o risco país aumentava. Lula, que nunca foi bobo, acalmou o sistema dizendo que jamais desrespeitaria contratos nem agiria de forma irresponsável em relação ao setor. Para comprovar suas boas intenções, levou Henrique Meirelles para comandar o BC.
Ao longo da gestão Lula, e mesmo durante a crise financeira de 2008, o sistema financeiro sempre foi bem tratado, apesar da relutância em atuar de forma mais proativa no corte dos spreads bancários.
Com a campanha eleitoral e o crescimento de 2010, o tema ficou meio adormecido, mas retornou, com toda a força, no governo Dilma. Agora, com os sucessivos cortes de juros e a expectativa de que a parte estatal do sistema seja mais agressiva na redução das taxas, o governo colocou a parte privada no corner. Era mais do que esperado.
A primeira reação às ações do sistema estatal foi a elaboração de uma agenda do tipo “se colar, colou”, para trocar por uma redução na taxa de juros. A resposta do governo foi dura. Os bancos lucram muito e não precisam de ajuda extra.
Em meio à discussão sobre como compatibilizar a queda da taxa Selic com a realidade do crédito dos bancos privados, outro debate ocorria: a regulamentação do cadastro positivo. Bancos queriam um órgão público para controlar a certificação das empresas, que montariam os bancos de dados. Mais uma vez, não colou.
O novo front de desgaste dos bancos é a questão do spread bancário, que, no Brasil, é mais do que indecente. A campanha é liderada por Dilma, que, obviamente, não tem – nem deveria ter – a mesma paciência de Lula com o setor que, dividido entre poucos players, não consegue criar uma nova agenda. Nem ter uma reação coerente e positiva diante da possibilidade real de crescimento dos bancos públicos em cima dos seus concorrentes privados.
A reboque dos acontecimentos, os bancos privados – que foram agentes de modernização do Brasil – estão sendo conservadores e reacionários, uma vez que resistem aos novos tempos de credibilidade financeira vividos pelo Brasil. Só que, demorando para reagir e construir uma nova agenda, podem perder terreno de forma importante.
Bancos privados fracos e/ou desconectados da realidade nacional não interessam. Tampouco bancos cuja consciência cívica esteja muito abaixo de sua performance financeira. O tempo de reflexão já passou. é tempo de uma nova agenda.