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O pessoal e o institucional na política

O modelo político brasileiro tem sido desde sempre baseado na arte de fazer amigos. Quanto mais, melhor – ainda que as dores do crescimento terminem causando problemas. Por exemplo, de co-habitação, já que os espaços políticos nunca são do tamanho das expectativas.

Existem ainda as dificuldades de compatibilidade ideológica, que, no Brasil, não são incontornáveis. E o pior dos obstáculos: a disputa pelo poder de comando. Todos os que estão na política querem ter um pedaço generoso do poder para reinar.

Em política, a arte de fazer amigos é tão importante quanto a arte de escolher os inimigos. Ao escolher os inimigos, o político separa seu arraial, demarca suas fronteiras e coloca no limbo aqueles sobre os quais não pretende estender sua proteção.

Curiosamente, o pior inimigo na política quase nunca está na oposição. O pior inimigo de José Serra, por exemplo, é Aécio Neves, do mesmo partido. O adversário de hoje pode ser o aliado de amanhã, mas o seu correligionário partidário sempre irá disputar espaço com você.

Daí a necessidade, no Brasil, de os caciques políticos serem donos de partido. Dessa maneira impedem a existência de inimigos em seu campo partidário. Muitos partidos no Brasil nasceram assim. E, de acordo com a conjuntura, o adversário de ontem vira o aliado de hoje.

O fato de o pior inimigo ser um correligionário faz com que o sistema funcione como no processo de divisão celular. O PSDB surgiu do PMDB em um processo de mitose. Antes, o velho MDB, em um processo de meiose, deu origem ao PT, ao PDT e ao PP. E por aí vai.

O modelo político e partidário brasileiro não é institucionalmente aglutinador. Ele provoca cisões e divisões para atender aos interesses pessoais de lideranças políticas e para expulsar inimigos. Ainda que, ao buscar amigo, seja pessoalmente aglutinador por conta de interesses comuns. Ainda que transitórios.

Apesar de ter sido a mãe e o pai de quase todos os partidos em atividade no país, o PMDB é notável em conseguir impedir que o processo de divisão celular enfraqueça a legenda. Porém, o processo de meiose ocorre no PMDB. Só que, ao invés de as dissidências saírem e fundarem novos partidos, tendem a se agrupar em facções que operam em regime de cooperativa política.

Morfologicamente, o PT é muito parecido com o PMDB: mantém facções que operam em condomínio político. Não é à toa que o PT, em sua origem, reuniu desde comunistas de vários tipos até socialistas de várias tendências, anarquistas e até mesmo sociais-democratas.
 
O modelo de funcionamento da política brasileira tem vantagens e desvantagens. A divisão impede que exista uma situação de maioria de poucos partidos controlando a situação. Com um quadro fragmentado, a necessidade de negociação é mais intensa e a construção de maiorias, mais complexas.

Por outro lado, as maiorias tendem a ser inconsistentes e muitas vezes limitadas a poucos temas de consenso. é um modelo conservador no sentido de que impede a existência de rupturas graves. E, também, de avanços significativos.
 
Com todos os defeitos, o modelo nacional tende a absorver as crises e limitá-las ao Congresso Nacional. O que é, considerando a história do mundo, um imenso avanço. Pior seria se as crises nacionais fossem resolvidas nos quartéis ou nas ruas, como na Grécia dos dias de hoje.
 
Nosso modelo, claramente, é um modelo precário e de transição. Faz parte de nossa evolução. O passo seguinte pode ser melhor ou pior. A economia, no limite, é quem vai determinar a qualidade dos próximos movimentos significativos na política brasileira.