Murillo de Aragão
Apesar do tiroteio político, o jogo da sucessão presidencial só começa para valer a partir de julho, quando os candidatos e as coligações forem confirmados. Até lá, é pouco provável que Lula perca sua liderança nas pesquisas de intenção de voto. Salvo fato novo extraordinário. Isto porque a mídia eletrônica continua muito favorável ao presidente. Além disso, apesar de a crise política continuar sendo tema de jornais e revistas, o noticiário da mídia impressa demora a afetar a imagem do presidente. Paralelamente a isso, Lula continua se beneficiando de alguns bons resultados da economia, como queda na taxa de juros e auto-suficiência na produção de petróleo. Isso sem falar no aumento de gastos do Poder Executivo, especialmente para a área social e de investimentos.
Lula também é beneficiado pela indefinição e falta de foco de adversários. O PMDB continua muito dividido. Parte do partido quer ficar com Lula. Outros preferem que a legenda fique livre para coligações estaduais. Os dois pré-candidatos (Anthony Garotinho e Itamar Franco) não são levados a sério por formadores de opinião e pela imprensa em geral. Prevalece o sentimento de que o PMDB, no final das contas, não terá candidato próprio.
No PSDB, a situação também não é boa. Geraldo Alckmin (PSDB) trava uma luta constante para crescer nas pesquisas e torce para que não perca a segunda posição na corrida sucessória para Garotinho. Tem sido criticado por fazer reuniões nos estados apenas com os caciques locais, desprezando o encontro com o chamado “baixo clero”. Sua campanha anda em ritmo morno. Depois que conseguiu derrotar José Serra na disputa interna, Alckmin parece ter perdido vitalidade. Mesmo sem esperar algum crescimento explosivo, Alckmin deveria estar ocupando espaços na mídia, debatendo suas idéias e mostrando mais ação. Outros partidos, como o PPS, PSOL e PDT estão mais preocupados com a elaboração de uma estratégia para vencer a cláusula de barreira do que em atacar Lula.
Lula adotou algumas táticas claras inteligentes. Uma delas é a adoção de medidas que beneficiam setores específicos. Empresários, aposentados, jovens e desempregados estão na lista de beneficiados. Outra medida é o anúncio periódico e programado de boas notícias. Cria-se um contraponto ao noticiário político ruim. A rápida saída de Palocci também faz parte do novo figurino. Lula evitou que o sangramento de Palocci o atrapalhasse. Outro ponto importante é o investimento maciço em propaganda. Principalmente, na mídia eletrônica e na mídia regional, fora dos grandes centros. Até junho, Lula pretende criar um fato político positivo por semana. Significa que irá continuar a abrir o saco de bondades do governo.
Face ao bom desempenho da economia, aumento de gastos por parte do Poder Executivo e indefinição/falta de foco dos adversários, Lula tende a continuar na liderança das pesquisas de intenção de voto por algum tempo. É o que mostrou a Revista Veja deste final de semana. Ela menciona uma pesquisa feita pelo Ibope para um cliente do mercado financeiro onde Lula continua liderando, com cerca de 40%. Alckmin permanece em segundo. Garotinho, um pouco melhor que as pesquisas anteriores, aparece em terceiro. Como a pesquisa não foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral, não pode ser divulgada.