O presidente da Bolívia, Evo Morales, está usando o Brasil como bode expiatório
para ganhar as eleições e o Brasil não está sabendo se defender, na opinião do cientista político da
Arko Advice, Murillo de Aragão. “A reação (de Lula) deveria ser mais dura. Houve erro do Brasil e
incompetência em estabelecer relações estáveis com a sociedade boliviana e em estabelecer
sinais claros da vida dos bolivianos a partir do investimento brasileiro”, avaliou, em entrevista ao
Broadcast Ao Vivo.
O impacto do episódio é muito ruim para o presidente brasileiro e também para a diplomacia
brasileira. “Além de ter sido humilhado, o Brasil perdeu a liderança regional para a Venezuela, que
às custas do petrodólar está comprando apoio e financiando governos populistas e demagógicos”,
afirmou. “A diplomacia deveria ter trabalhado para mitigar as ações do governo boliviano”,
acrescentou.
Segundo ele, a oposição está como espectadora na questão Brasil/Bolívia. “O governo está
produzindo tantos equívocos e está dando tanta margem para o Evo Morales crescer nesse
episódio, que a oposição está de passageira”, disse.
Ainda sem uma atuação forte da oposição, Aragão acredita que seja possível que o episódio abale
a imagem de Lula nas pesquisas eleitorais. “É difícil afirmar com certeza que vai abalar, porque o
presidente Lula tem um magnífico ‘efeito Teflon’. Ele consegue atravessar as maiores crises, as
maiores barbaridades e sua popularidade prossegue protegida. No entanto, pode-se afirmar com
certeza de que perante o eleitor mais esclarecido (…), o desgaste é tremendo”.
Aragão também avaliou a possibilidade de a questão do gás boliviano afetar os investimentos no
Brasil. “Ainda o Brasil é visto como parte de um conjunto chamado América Latina. (…) O investidor
menos culto termina misturando uma coisa com a outra. E aí isso vai afetar a avaliação na região,
sem dúvida”. (Josué Leonel e Luciana Xavier, segue)