Murillo de Aragão
O início da campanha eleitoral em julho marcou não apenas uma nova etapa processual para a escolha do próximo presidente. Foi, também, o início do questionamento do favoritismo de Lula, já que Geraldo Alckmin conseguiu reduzir a sua diferença em 10%, de acordo com a pesquisa Vox Populi (
O fato é que o favoritismo de Lula, ainda que se mantenha, não é absoluto. Geraldo Alckmin mostrou capacidade de reação e condições de iniciar a campanha em uma condição menos desfavorável do que muitos pensavam.
A certa altura do processo, ao final de maio e início de junho, o fraco desempenho de Alckmin gerou especulações sérias sobre a sua viabilidade. Houve quem, no PFL, cogitasse a sua substituição.
Bastou organizar a sua campanha de forma melhor, ter boas aparições na propaganda partidária do PSDB, PFL e, ainda, contar com os ataques do PPS ao presidente Lula, para Alckmin voltar à disputa.
A situação de Lula já não é tão tranqüila. Mantendo-se acima dos 40%, Lula tem ainda condições de vencer no primeiro turno.
Porém, enfrenta o espectro da decisão no segundo turno por conta tanto da ascensão de Alckmin quanto de Heloísa Helena.
O início da propaganda eleitoral no rádio e na TV (15 de agosto) tende a reforçar o quadro de ascensão de ambos favorecendo a decisão no segundo turno.
A campanha se inicia com duas vantagens importantes para Alckmin: melhor qualidade dos palanques estaduais (candidatos a governadores) e mais tempo de televisão (ver quadro abaixo).
Mesmo com a ascensão verificada nas últimas semanas e com algumas vantagens frente à campanha de Lula, Alckmin deve se preocupar com os episódios de violência em São Paulo e com um eventual corpo mole da dupla Aécio Neves e José Serra que almejam disputar a presidência em 2010.
Lula, pelo seu lado, ainda se beneficia do bom ambiente econômico e do seu carisma pessoal. Porém, deve se preocupar muito com o fato de que a população parece estar mais preocupada com os episódios de corrupção de seu governo do que antes.
De acordo com a última pesquisa CNT/Sensus (4 e 7 de julho), em setembro do ano passado, 13,5% dos entrevistados acreditavam que o presidente Lula estava vinculado aos casos de corrupção do seu governo. Vale lembrar que o mensalão foi denunciado em junho de 2005. Hoje, apesar de o tema ser pouco abordado pela imprensa, este percentual aumentou para 18,2%.
Com relação à Heloísa Helena e Cristovam Buarque, a primeira demonstra maior capacidade de agregar o voto espontâneo, o voto da indignação, o que deve alavancar seu desempenho para níveis acima de 10% no próximo mês. Cristovam depende da propaganda eleitoral para crescer, já que sua campanha parece morna.
Considerando os vetores e as circunstâncias, a disputa continua aberta. Porém a polarização entre PT e o PSDB deve predominar. Podendo ser resolvida no primeiro turno a favor de Lula ou no segundo turno em um quadro de indefinição.