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Campanha vai ficar mais agressiva

Murillo de Aragão


Faltando duas semanas para o primeiro turno, Lula lidera com 9 pontos de vantagem sobre os demais candidatos (CNI/Ibope). Tal vantagem é mais do que suficiente para liquidar a disputa no primeiro turno.



No entanto, qualquer derrapada mais séria de Lula poderá levar a disputa para o segundo turno. Esse é o aspecto mais sério em questão.



O fato de a diferença entre Lula e os demais candidatos estar caindo reflete uma mudança de postura e pode apontar uma tendência.



Nas últimas semanas, Lula passou a enfrentar maior hostilidade dos demais candidatos, fato responsável desgaste junto ao eleitorado mais esclarecido.



A pesquisa do Datafolha (realizada nos dias 11 e 12 de setembro) mostrou deterioração da preferência por Lula junto aos eleitores mais escolarizados e com maior pode aquisitivo e, ao mesmo tempo, crescimento expressivo de Alckmin neste mesmo segmento.



Geraldo Alckmin apresentou crescimento expressivo entre os eleitores que ganham mais de 10 salários mínimos (SM). Passou de 38% para 52%. Um crescimento de 14 pontos percentuais. Entre os eleitores que ganham entre 5 e 10 SM, ele saltou de 34% para 39%.



O presidente Lula caiu junto aos eleitores que ganham de 5 a 10 SM de 41% para 36% e entre os que ganham mais de 10 SM despencou de 35% para 25%.



Com relação ao nível de escolaridade, Lula caiu de 34% para 29% entre os que têm ensino superior. Geraldo Alckmin subiu de 36% para 43% nessa faixa.



De certa forma, isto mostra que o discurso mais agressivo da campanha do PSDB teve efeito importante sobre o eleitor.



Olhando para frente, Alckmin ganhou mais munição nesta reta final da campanha.



A prisão do empresário Valdebran Carlos Padilha da Silva, filiado ao PT, por tentar comprar por R$ 1,7 milhão um dossiê de Luiz Antonio Vedoin sobre o suposto envolvimento de José Serra e Geraldo Alckmin no escândalo das sanguessugas prejudica o partido e pode ter reflexos na candidatura do presidente Lula. Freud Godoy, assessor especial da Secretaria da Presidência da República, teve seu nome envolvido no caso.



Há também a decisão do Tribunal de Contas da União de investigar suposto desvio de R$ 11,6 milhões por parte da Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto. A iniciativa está criando forte embaraço para o presidente, o governo e o PT. Ainda que de forma tímida, voltou-se a falar no impeachment do presidente e na impugnação de sua candidatura. Ambos pouco prováveis de acontecer no momento.



O episódio com a Bolívia também deverá repercutir mal para Lula junto ao eleitorado mais esclarecido. Apesar do recuo do presidente Evo Morales, ficou a impressão de que faltou firmeza à reação do Brasil.



Além disso, o modelo de debate proposto pela TV Globo pode fazer com que o presidente Lula reavalie sua decisão de não comparecer ao debate, o que para Alckmin é uma boa notícia.



De acordo com as regras da emissora, os candidatos presentes poderão fazer pergunta aos ausentes. Terão 40 segundo para isso. Será reservada uma cadeira com o nome do candidato ausente a ser mostrada periodicamente aos telespectadores.



Lula, portanto, está entre a cruz e a espada. Se for, poderá ser atacado por todos os candidatos. Terá que ter muito jogo se cintura. Caso contrário, poderá ser chamado de covarde por não comparecer.



A decisão do presidente, porém, poderá ser tomada somente às vésperas do debate. Se o quadro eleitoral estiver como o de hoje, não deverá ir. Se Alckmin crescer mais e ele perder alguns pontos nas pesquisas, sentirá necessidade de aceitar o convite.



Portanto, faltando duas semanas para a eleição o clima poderá esquentar e o aquecimento da campanha não é bom para o Lula. O eventual envolvimento de seu assessor pessoal na compra de um dossiê contra o José Serra é uma péssima notícia. É um típico fato novo que pode alterar o rumo das eleições. Em especial se for bem explorado por Alckmin. Assim sendo, fica possível que a disputa final seja transferida para o segundo turno.