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Entrevista de Murillo de Aragão na revista Exame

“Esse erro pode mudar tudo”


 | 21.09.2006

Para cientista político, envolvimento de petistas na venda de um dossiê que incriminaria José Serra e Geraldo Alckmin terá um grande impacto nas eleições


 



Divulgação


Aragão: A suspeita vai prejudicar Lula


Por Gustavo Paul

EXAME 

A Polícia Federal apura a denúncia da venda de um dossiê que vincularia o nome dos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin à máfia dos sanguessugas. Entre os responsáveis por essa ação aparecem alguns nomes de pessoas ligadas ao PT. O principal acusado é Freud Godoy, assessor direto de Lula. A seguir, o cientista político Murillo de Aragão analisa os possíveis impactos da história na eleição.



1 – O novo escândalo pode mudar o rumo das eleições?
Pelo caráter grotesco, pelo aspecto de ópera bufa, pelo alcance e pela seriedade, ele terá impacto. Em um ambiente político tenso, isso pode alterar o rumo das eleições e abrir a possibilidade de um segundo turno. Mas dependerá de desdobramentos, como a intensidade da cobertura da imprensa, o surgimento de fatos novos e a forma como será explorado pela oposição.


2 – A oposição já tentou usar na campanha outros episódios de corrupção, como o mensalão. Por que o novo escândalo pode provocar mais estragos?
O mensalão teve efeito, sim, no cenário eleitoral. Se não tivesse sido explorado na campanha, Lula teria hoje entre 60% e 70% da preferência, e não a metade dos votos. O escândalo do dossiê é diferente porque é novo. É um erro imperdoável e absurdo que o PT — e eventualmente o presidente Lula — tenha permitido que essa operação tivesse sido cogitada, quanto mais executada. Trata-se de uma comédia de erros tal qual a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo.


3 – Mas Lula não agiu rápido, aceitando o pedido de demissão do assessor Freud, além de manifestar repúdio e dizer que a Polícia Federal vai apurar o caso até o fim?
Isso não basta para dizer que o governo não é culpado. A culpa ainda será apurada. De toda forma, no contexto eleitoral, somente a suspeita vai causar grande transtorno à campanha.


4 – José Serra e Geraldo Alckmin também não saem perdendo com o episódio do dossiê?
Para o eleitorado, é uma denúncia dirigida inicialmente ao PSDB que se voltou contra o PT. É claro que as acusações feitas ao ex-ministro José Serra são muito sérias, precisam ser apuradas. Já Alckmin entra com um papel subalterno nessa história.


5 – Mesmo com o desgaste, a vantagem de Lula não é suficiente para liquidar logo as eleições?
Ele continua sendo o favorito, mas a diferença entre Lula e Alckmin pode ser eliminada em poucos dias. Tecnicamente, existe tempo para chegar ao segundo turno.


6 – Alckmin diz que, se chegar ao segundo turno, começa uma nova eleição. O senhor concorda?
É preciso haver uma transferência de votos do presidente para Alckmin, que é mais difícil, apesar de não ser impossível. Os eleitores podem mudar de opinião motivados por algum episódio novo ou pelo desempenho ruim de Lula em um debate. Mas Alckmin terá de mostrar outras qualidades para vencer o jogo.


7 – No caso da reeleição, Lula começaria seu segundo mandato mais fraco com esses escândalos?
Todos os episódios que ocorreram terão seqüência na Justiça e podem se transformar em investigação política, o que tende a trazer dificuldades. Por isso, Lula pode iniciar o segundo mandato mais frágil, prejudicando a agenda de reformas.