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Uma campanha tensa no segundo turno


Murillo de Aragão


O segundo turno na eleição presidencial é resultado de acidentes de percurso cometidos pela coordenação de campanha de Lula e pelo PT. Sem o episódio do dossiê Tabajara e tendo ido ao debate da Rede Globo, Lula provavelmente teria vencido a disputa em primeiro turno. Geraldo Alckmin surpreendeu na reta final. Conquistou mais de 20 pontos em um mês. Mesmo assim, não fez uma boa campanha. Sua publicidade não empolgou, só foi agressivo quando não tinha mais jeito. Chegou a ser desenganado pela cúpula tucana que achava que ele não ia decolar. A ocorrência de segundo turno se deve mais às derrapadas de Lula e menos aos méritos de Geraldo Alckmin.


 Nas atuais circunstâncias, o resultado está em aberto. É uma nova campanha onde surpresas podem acontecer. A diferença de menos de 10% entre Lula e Alckmin pode ser pulverizada nas próximas semanas. Na simulação da mais recente pesquisa Datafolha, a diferença seria ainda menor: 5%. Lula, pelo seu lado, pode acertar a sua campanha, parar de cometer erros e ser beneficiado pela ausência de fatos novos críticos. Por outro lado, apesar do favoritismo de Lula, a volatilidade dos acontecimentos pode reverter tal situação. Tudo pode acontecer. Mas vale ressaltar que Lula sai com alguma vantagem.


 Um personagem de Machado de Assis, o conselheiro Ayres, dizia que o inesperado tinha voto decisivo na assembléia dos acontecimentos. De lá para cá, tivemos a queda do Palocci, o escândalo das sanguessugas, os ataques do PCC, a crise com a Bolívia e, finalmente, o dossiê Tabajara. Este, totalmente criado nas hostes petistas, mudou o rumo da campanha. E, pior para Lula, pode não ter esgotado a sua capacidade de surpreender negativamente a opinião pública.


 Fica claro que, por conta da conjuntura, não será uma campanha fácil. Geraldo chega ao segundo turno embalado pelos erros e trapalhadas do PT. Terá que ser mais agressivo para continuar subindo. Tal possibilidade abre caminho para uma campanha mais dura. Geraldo pode contar ainda com fatos novos e comprometedores da campanha petista. Somente a suspeita de que isso pode acontecer agrega muita tensão.


 Lula, pelo seu lado, terá que responder a altura para não ser tragado pela campanha. O não comparecimento ao debate na Rede Globo lhe custou votos decisivos. Para alguns, foi um ato de covardia. Agora, não terá escapatória. Terá que ir ao debate com Geraldo. Tal situação não será fácil nem para um nem para outro. Lula terá que se desdobrar para conter seu gênio e ser duro sem perder a ternura. Ambos serão testados ao limite em situações diferentes. Para Lula, a campanha mais difícil de sua vida. Alckmin, pelo seu lado, não tem nada a perder, mas sabe que tem muito a ganhar.


 Outros fatores contribuem para a agressividade potencial da campanha, além do risco de novas revelações sobre o dossiê Tabajara. Setores mais radicais do mundo político de Lula correm o risco de serem desalojados  do governo. Podem não aceitar pacificamente a possibilidade de fracasso.  Seria um fator adicional de tensão? É difícil afirmar com precisão.  Assim, os candidatos, a imprensa, o TSE e os partidos envolvidos terão que ter muita responsabilidade para que a disputa não seja de baixo nível nem agressiva. A democracia brasileira agradece o segundo turno. Mas, temos que ter responsabilidade para conduzi-lo com respeito ao jogo democrático.