Os pontos e as mensagens implícitas são os seguintes:
1 – Reforma política para garantir “uma representação transparente e responsável para constituir bons níveis de governabilidade”. Lula deseja que o partido se comprometa com alguns pontos da reforma política como o financiamento público de campanha, a fidelidade partidária, o sistema de voto em lista nas eleições proporcionais e o fim da reeleição. Mas, sobretudo, quer que o comprometimento com a reforma signifique lealdade do PMDB ao governo.
2 – Reforma tributária com redução gradual da carga de impostos e estímulos à iniciativa para investimentos; desoneração seletiva visando a produção de bens e serviços de consumo da população de baixa e média renda. Apesar das belas palavras, Lula quer mesmo que o PMDB dê quorum para a renovação da DRU e da CPMF e, se der, para a unificação das regras do ICMS.
3 – Política econômica, monetária e fiscal comprometida com um crescimento mínimo de 5% nos próximos quatro anos, controle da inflação e prioridade nos investimentos de infra-estrutura, educação, saúde, ciência e tecnologia. Uma mensagem para o mundo político de que Lula quer crescimento com responsabilidade e quer ter o apoio do PMDB para tal.
4 – A evolução das despesas correntes deve ser inferior ao crescimento do PIB, priorizando a manutenção das despesas destinadas à melhoria das condições de vida das regiões metropolitanas, no que se refere à saúde, educação e infra-estrutura. Significa que o partido não deve apoiar matérias que arrombem os cofres públicos (política de reajuste do salário mínimo, 13º salário para Bolsa Família, fim do fator previdenciário, etc.)
5 – Consolidação das políticas de transferência de renda em andamento e integração dessas políticas com ações de natureza educacional, técnica e superior para abrir oportunidades de emprego ou de atividades.
6 – Fortalecimento da federação, reexaminando as dificuldades fiscais de cada estado, enfrentando a questão da segurança pública com a colaboração dos três níveis de governo. Aqui, não há um commitment, mas uma mensagem de esperança de que o governo vai estudar uma forma de ajudar na questão do endividamento dos estados.
7 – Criação de um conselho político composto pelos partidos de coalizão para acompanhar as ações de governo. Significa que Lula quer estabelecer um mecanismo de controle do comportamento dos aliados. O conselho vai funcionar como um comitê de gestão da coalizão.
Temer convocará uma reunião da Executiva Nacional do PMDB para a próxima terça-feira. A Executiva deve aprovar a reunião do Conselho Nacional do Partido, nas próximas duas semanas, para formalizar o apoio ao governo.
Mesmo sabendo que o que o PMDB quer é pudê e cargos, a agenda estabelecida por Lula é de alto nível. Lula colocou alguns pontos que não necessariamente precisariam estar na pauta do acordo. Como, por exemplo, a redução da carga tributária.
Ao colocar a questão ao nível das idéias e propostas, Lula tenta chamar o PMDB para uma discussão mais elevada e condiciona o partido ao debate das questões e participação na formulação de políticas públicas. Esta forma de diálogo também interessa ao PMDB, visto como altamente fisiologista. Além do mais, do ponto de vista pessoal de Temer, o acordo pode lhe garantir a presidência da legenda, que já vinha sendo contestada internamente.
Porém, gato escaldado tem medo da água fria. Lula oferece tudo, mas somente depois de eleger os presidentes da Câmara e do Senado (a eleição é no dia 1º de fevereiro de 2007). Assim, a tendência é que o espaço do PMDB no governo fique como está até fevereiro. Caso se comporte bem nas votações remanescentes e as eleições para o comando do Congresso sejam bem resolvidas, o partido vai ter uma bela fatia do governo.
Michel Temer disse que 90% do PMDB apóia Lula. Porém, seis senadores não. Caso a costura política não seja feita de forma adequada, Lula pode se ver em apuros no Senado. Mesmo assim, se Temer promete 90%, Lula vai ficar muito satisfeito se tiver apoio firme de 80% da bancada da Câmara. Com isto, o partido pode levar até 6 ministérios de bom tamanho orçamentário.
Um dos primeiros testes do partido no Senado será a votação da medida provisória 316/06, que trata do reajuste para aposentados e pensionistas do INSS que recebem mais de um salário mínimo. O governo defende um reajuste de 5,01% e a oposição tentar aprovar 16,67%. Na Câmara, o governo venceu mas a bancada do PMDB ficou dividida. A bancada atual tem 79 deputados, sendo que 36 votaram a favor do governo (45,56%) e 20 contra (25,31%). Os outros 23 (29,11%) não estavam presentes. Se considerarmos apenas os presentes, 64,28% votaram a favor do governo e 35,71% contra.