A Presidenta chilena, Michelle Bachelet, anunciou hoje medidas para enfrentar as conseqüências de um escândalo de corrupção que gerou uma grave crise na sua coalizão governamental e que já resultou nas primeiras prisões nesta semana.
A primeira atividade de Bachelet ao regressar a Santiago, depois de participar da Cúpula da APEC no Vietnã, foi um encontro com uma comissão designada para analisar o problema.
O escândalo que envolve um senador governista e funcionários do Governo se originou na ChileDeportes, um órgão estatal encarregado de fomentar o desenvolvimento desportivo e que recebeu aportes de 750.000 dólares para financiar projetos que nunca existiram, segundo denunciou a Controladoria Geral da República.
Três ex-funcionários do Governo e um dirigente desportivo foram detidos entre a noite de terça-feira (20/11) e a manhã de ontem (22/11), nas primeiras ações da Justiça para apurar a denúncia.
A mandatária informou que a comissão pró-transparência propôs que para as infrações mais graves as punições cheguem a perda do cargo, afastamentos e sanções pecuniárias.
Adicionalmente, se pretende criar uma unidade especializada de fiscalização eleitoral independente e livre de conflitos de interesse.
As medidas são uma última tentativa de evitar o eventual fim da bem sucedida coalizão de quatro partidos que formam a base governista, que já começou a ser ventilada em círculos políticos no Chile.
O escândalo gerou graves divisões no interior da coalizão. Durante a votação, na terça-feira, para definir o presidente da comissão investigadora do caso na Câmara dos Deputados, o Partido da Democracia Cristã (DC) se absteve de votar, o que permitiu que fosse eleito o opositor Nicolás Monckeberg, do partido de direita Renovação Nacional (RN), o que avivando o mal-estar entre os demais partidos da bancada governista.
Às tensões pelos graves sinais de corrupção somou-se a oposição da DC a um projeto dos socialistas para legalizar o aborto no Chile. A iniciativa fracassou na terça-feira na Câmara dos Deputados, que rejeitou a proposta por 61 votos a favor (da direita e da DC) contra 21 dos partidos socialistas, e três abstenções.
Frente aos desentendimentos, o senador da DC Jorge Pizarro admitiu a possibilidade de uma ruptura na coalizão governista, conhecida como Concertação, antes que termine o Governo de quatro anos da Presidenta Bachelet, iniciado em março.
A Concertação nasceu há 18 anos da reunião de 16 organizações empenhadas em derrotar a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).
Seu símbolo é um arco-íris, que representa as distintas cores ideológicas dos seus integrantes, desde a direita moderada até a esquerda e os ecologistas do Partido Humanista e do Partido Verde.
Bem sucedida no seu propósito de acabar com a ditadura, a Concertação tem governado o Chile desde 1990, o que a caracteriza como a mais estável coalizão multipartidária na história republicana do país. A governabilidade de que se orgulha a Concertação é posta seriamente em descrédito cada vez que se noticia um escândalo de corrupção. Toda vez que a Concertação foi golpeada por escândalos nos últimos anos, cada partido tem buscado fazer com que os seus aliados paguem a conta. Adicionalmente, a DC, que é um partido de direita moderado, tem assumido, em muitas ocasiões, posições em desacordo com os outros três partidos posicionados mais a esquerda no espectro político.
O problema para Bachelet e para a Concertação é que sem os votos da DC o Governo estaria a mercê da oposição. Líderes dos outros três partidos da coalizão e membros do Executivo se anteciparam em anunciar a inexistência de qualquer possibilidade de fragmentação da bancada governista após entrevistas de congressistas mais radicais que desde ontem vêm pregando o fim da aliança. Enquanto isso, a DC se mantém distante da polêmica votando a favor das medidas mais moderadas propostas pela Concertação e contra projetos que ofendem a sua natureza moderada cristã.
(Fonte: Arko América Latina / Agência Estado)