Reforma ministerial em compotas
12 de dezembro de 2006
A imprensa e o clima político
12 de dezembro de 2006
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As lições da semana passada e suas repercussões

Lula deve ter tirado lições importantes e amargas da semana que passou.


 


Apesar de ter conseguido adiar a instalação da CPI das ONGs que irá investigar a polêmica relação do governo com entidades associativas o front político não apresenta o perfil positivo que deveria apresentar.


 


A derrota de Paulo Delgado para o Tribunal de Contas da União não é o único sinal preocupante. Nem o rebaixamento do quadro partidário promovido pelo STF ao anular os efeitos da cláusula de barreira.


 


A eleição do presidente da Câmara está se desenhando mais complexa do que o governo esperava. Excesso de candidatos governistas e a ameaça de surgimento de um nome forte junto ao baixo-clero desafiam a coordenação política do governo.


 


O PT, que batia o pé com a candidatura de Arlindo Chinaglia, já admite rever a posição. A que custo?


 


No Senado, o favoritismo de Renan Calheiros não é tão grande assim a ponto de tranqüilizar. A oposição, antes dividida, se uniu para apoiar José Agripino. Os dissidentes do PMDB e do PTB podem desequilibrar.


 


Pelo menos, no caso do Senado, uma boa notícia para Lula: os cinco senadores do PDT vão apoiá-lo e devem votar em Renan Calheiros.


 


Na terça-feira, Lula vai ouvir queixas dos aliados por causa do que consideram excesso de atenção dada pelo presidente ao PMDB. Exigem tratamento proporcional ao tamanho de suas bancadas. O PMDB quer oito ministros e aceita seis, desde que forrados por gordas verbas orçamentárias.


 


Fechando a escalação política do novo Ministério, espera-se a substituição de Márcio Thomaz Bastos na Justiça. Há muito a pasta não era ocupada por ministro tão útil a um presidente da República. Sua saída, caso confirmada, é uma grave perda para Lula. No momento, não há nomes com a mesma qualidade para substituí-lo.


 


Fazendo uma reforma ministerial “em compotas”, por medo da traição de seus aliados, Lula sinaliza fragilidade política e submissão de seus projetos à frágil lealdade dos aliados. Não é um bom sinal.


 


No campo gerencial, o apagão aéreo tem ridiculamente gerenciado pelo governo e mantém o noticiário negativo contra Lula. A imprensa já aponta efeitos econômicos perversos de tanta incompetência.


 


Um efeito colateral da crise do tráfego aéreo é o reforço do papel de Dilma Roussef como “super-ministra”: acumula a Casa Civil, seu cargo formal, e, informalmente, as pastas de Minas e Energia e, agora, da Defesa.


 


Lula mostra-se impaciente para “destravar” a economia, cobra soluções e propostas de sua equipe e coloca-se como o ministro da Economia do segundo mandato. Está se expondo de forma excessiva.


 


A apresentação de propostas esbarra na falta de unidade do time econômico. De um lado, existe um certo consenso de que não se pode arruinar o quadro fiscal aumentando abusivamente os gastos públicos. Por outro, não há consenso sobre as reformas constitucionais (tributária, trabalhista e previdenciária). Preocupa a lentidão na promoção da agenda das micro-reformas de caráter infraconstitucional que poderiam melhorar significativamente o ambiente de negócios no Brasil.


 


Ainda no campo econômico, outros temas são destaques negativos e sinalizam problemas.


 


Prosseguem as áreas de atrito com as centrais dos trabalhadores (salário mínimo) e com os empresários (prorrogação da absurda multa de 40% do FGTS na demissão de funcionários sem justa causa).


 


A ata do COPOM indicou que a taxa de juros pode interromper sua trajetória de queda, contrariando parte do governo. 


 


No campo internacional, a passagem de Hugo Chávez e sua flamejante comitiva de 200 pessoas pelo Brasil não foi nada agradável. Chávez “enterrou” o Mercosul, depois de fazer força para participar dele e prometeu “mundos e fundos” para o Brasil se transformar em “potência mundial”. Chávez e seus “camisas vermelhas” controlam a agenda latino-americana.


 


A avaliação conjunta dos sinais da semana não é positiva. Indica que Lula terá dificuldades na gestão política e problemas em janeiro (pressões dos empresários, fogo-amigo, etc.) caso a taxa de juros deixe de cair.


 


Frente à temporada eleitoral, os episódios da semana passada apontam para uma discreta piora no cenário político ainda que sem repercussões graves imediatas.


 


O impulso recebido por Lula com a reeleição começa a dar sinais de sensível esmorecimento. Nada que não possa ser recuperado com liderança, energia e algumas decisões acertadas.