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A disputa na Câmara dos Deputados


Murillo de Aragão


 


A disputa pela presidência da Câmara foi o principal assunto político da semana passada. E pode dar muita dor de cabeça para Lula. Os candidatos Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) se reuniram com diversas lideranças políticas, inclusive com o presidente da República, na tentativa de consolidar seus respectivos nomes para a eleição que acontece no dia 1º de fevereiro. A disputa entre dois nomes fortes na base governista não é conveniente para Lula. Nesse cenário, seria pior se a oposição e o baixo clero estivessem mais articulados. Como parecem sonolentos, Lula deverá, salvo fato novo, eleger um aliado para a presidência da Câmara.  


 


Qual é a situação de cada um? Aldo Rebelo tem a seu favor cinco aspectos positivos: o apoio do presidente Lula; apoio de parte expressiva da oposição, que deseja desde já enfraquecer o PT para a disputa presidencial de 2010; o apoio de parte da base aliada, que tenta conter a fome de cargos do PT; de modo geral, um bom relacionamento com muitos parlamentares e, por fim, o fato de disputar a reeleição no exercício do mandato. Porém, Aldo saiu muito desgastado ao bancar o reajuste de 90% do salário dos deputados. Além disso, é de um partido pequeno, com poucos votos e pouco a oferecer a outras legendas em troca de apoio.


 


Arlindo Chinaglia tem, pelo menos, quatro pontos positivos para sua candidatura: o seu partido soma 83 votos e está relativamente unido em torno de seu nome (ao contrário da eleição passada, quando a bancada se dividiu entre Luiz Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães); fez um acordo de reciprocidade com o PMDB para a eleição do presidente da Câmara em 2009; pode negociar outros cargos na estrutura da Câmara em troca de apoio, especialmente com o PMDB; e tem bom trânsito junto aos partidos. Pesa contra ele a falta de apoio da oposição e a resistência da base aliada em conceder mais poder ao PT.


 


O presidente disse que gostaria de uma definição da disputa entre os dois até o dia 20 de janeiro. Ou seja, este seria o prazo para que um dos dois desista da disputa. É um prazo apertado. A falta de união da base aliada pode favorecer o surgimento de alguma candidatura alternativa. Um nome alternativo, como foi Severino Cavalcanti, pode de repente chegar ao segundo turno da eleição e causar uma surpresa. Não é o cenário predominante. Lula tem amplas condições de ter um aliado no comando da Câmara.   


 


Como o quadro comparado entre ambos é ligeiramente favorável para Aldo Rebelo, é pouco provável que ele desista. Além disso, sua desistência poderia representar risco ainda maior para o governo, pois poderá estimular que outros candidatos apareçam, como, por exemplo, Inocêncio Oliveira (PR-PE) e Ciro Nogueira (PP-PI). Ambos têm bom trânsito junto ao baixo clero. No Congresso, gostam muito mais de Lula do que do PT.  O ideal para o governo seria que Arlindo Chinaglia desistisse da disputa. Evitaria riscos e pacificaria o clima na base aliada. Resta saber quem vai colocar o guizo no gato? Só pode ser Lula.


 


Arlindo é um nome de alto nível no Congresso e um dos destaques da bancada do PT. Segurou a barra de um governo politicamente desorganizado e gravemente desmoralizado pelos episódios do Mensalão. Mesmo sendo da intimidade do governo, nunca teve seu nome envolvido em nenhuma das loucuras e falcatruas ocorridas. É um homem de bem e merece todo o respeito do governo e, principalmente, de Lula.  Vamos ver como a situação será resolvida.