Entrevista de Armínio Fraga Publicada na revista Veja desta semana.
Veja Em que aspectos econômicos o Brasil avançou nos últimos anos?
Fraga
Veja Quais seriam essas revoluções?
Fraga Uma delas já começou a pegar, mas ainda de forma incipiente: a idéia de que é bom fazer parte do mundo. Hoje o brasileiro pensa em exportar e vê isso como oportunidade. A revolução mais urgente, no entanto, é cultural. Requer uma mudança de atitude em relação ao Estado. Os brasileiros e suas empresas precisam aprender a depender menos do governo. Ainda vejo essa mentalidade que é própria das raízes ibéricas, de esperar que a mãe governo cuide de todos os nossos problemas. Mas, como escreveu Eça de Queiroz, a mãe governo é pobre; como é pobre, paga pouco, e essa pobreza vai se perpetuando. O triste é que, ao que parece, estamos retrocedendo nesse item. A campanha eleitoral para o segundo turno, por exemplo, foi marcada pela crucificação das privatizações. A agenda de reformas liberais apanhou muito.
Veja A que o senhor atribui esse retrocesso?
Fraga A agenda liberal sempre apanha porque ela melhora a vida de muitos, de maneira difusa, e prejudica grupos organizados. Quem usa o celular deveria se lembrar de que só tem o aparelho graças às privatizações. O mesmo vale para a internet. Quantos pequenos negócios não foram viabilizados por causa dos celulares e da internet? Mas não tenho ilusões. Não acredito num modelo liberal radical para o Brasil, não combina muito com o que vejo por aí. O brasileiro gosta de Estado. É da nossa cultura, e eu mesmo não acho razoável pensar num Estado minimalista. .Mas isso não quer dizer que alguns aspectos de uma agenda liberal não possam ser implementados. Deveríamos ter um governo mais enxuto e eficiente, com uma economia mais livre e mais bem regulada. Não dá para imaginar que o país vá crescer sem que essas questões sejam abordadas. A riqueza não brota da terra, mesmo quando brota da terra. Senão o petróleo resolveria os problemas sociais do Rio de Janeiro.
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