A seguir matéria do jornalista Biaggio Talento do jornal A Tarde (Salvador, Bahia) sobre o governo Jacques Wagner:
“É como se o técnico do Bahia fosse para a Seleção Brasileira e, ao convocar os jogadores, chamasse atletas de todos os times, não só do seu clube, e passasse a ser cobrado pela torcida baiana”.
Essa foi a comparação que o cientista político Murillo de Aragão, da Arko Advice Consultoria, de Brasília, fez do momento de ansiedade vivido pelos aliados sindicalistas do governador Jaques Wagner diante da suposta “demora” nas mudanças.
Para Aragão, a cobrança exacerbada é natural pelas características da política baiana e da eleição, principalmente pelo fato de o Estado ter sido administrado por muito tempo por governadores do PFL, ligados ao senador Antonio Carlos Magalhães, que sempre trataram os adversários de forma implacável.
“A vitória de Wagner foi surpresa e representou a renovação de uma máquina que girava em torno do carlismo, que está enraizado na administração pública”, disse, ponderando que isso explicaria o fato de o petista estar ainda “entendendo o bicho governo e, portanto, sendo prudente ao mover as peças certas no momento adequado”.
Emoção O cientista político sustenta que as expectativas dos companheiros sindicalistas de Jaques Wagner criaram uma carga emocional muito grande de pessoas “que passaram muito tempo no palanque e têm uma visão romântica da política”. Pondera, contudo, que a pressão tem que ser feita mesmo, pois como diz o ditado “quem não chora não mama”, mas caberá ao governador administrar isso para a coisa não sair do controle. “Acho que a receita mais sensata é a prudência, pois não se pode esquecer o que a Maria Luiza Fontenelle fez quando assumiu a prefeitura de Fortaleza (década de 80) e destruiu a administração pública (ao atender a maioria das reivindicações dos sindicalistas)”.
Qualidades Aragão destacou três qualidades no novo governador baiano que o faria diferenciado em relação aos seus colegas. “Como vem do movimento sindical, ele sabe que as conquistas ocorrem no seu tempo, fruto de negociação”, citou. Disse que Wagner também “possui experiência parlamentar tendo larga visão de poder e sabendo que política não é só Bahia e Vitória, mas também Colo Colo, Galícia e outros”, comparou. Por fim, enfatizou o cientista político: “como foi coordenador político do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sabe que se ele tivesse feito um governo 100% petista não teria obtido os avanços e nem conseguiria a reeleição”, apontou.
Aragão alertou, entretanto, que a receita da prudência tem prazo certo de vencimento e será preciso, em determinado momento disciplinar e delimitar situações. “A aliança com o PSDB, por exemplo, é uma coisa que causa desconforto aos petistas e precisa ser resolvida na Bahia”, acredita. A vantagem, para Aragão, é que Jaques Wagner tem uma “visão política sofisticada” e certamente usará toda a sua experiência para fazer um bom governo, sem se deixar levar pelas pressões de qualquer ordem. (B.T.).