Chávez parece ser um grande enxadrista. Está sempre uma jogada adiante de seus oponentes e tem visão suficiente para perceber quando terá tranqüilidade para vôos em outros campos, além daqueles para os quais já tinha plano adequado, ousando em novo espaço aéreo. Quando se sente acuado, não hesita em buscar apoio. No inicio do primeiro mandato de Lula, necessitando se fortalecer internacionalmente e ainda enfraquecido pelo golpe de 2002, virou arroz de festa em Brasília. Virou papagaio de pirata de Lula. Quando ficou forte, não hesitou em passar a perna no Brasil e estimular Evo Moralez a nacionalizar as refinarias da Petrobrás para, adiante, criar a PetroAndina com o objetivo de administrá-las. Tudo planejado meses antes. Há um bom tempo que Hugo Chavez é o cérebro estratégico da América Latina. Ele ocupou um lugar que estava vago. Seja pela inexistência de líderes com grande valor intelectual, seja pelo vácuo de poder deixado por aqueles que deveriam assumir seu papel histórico e não o fizeram. No início, toda sua ação se concentrou na tomada do poder. Posteriormente, no controle das instituições políticas venezuelanas. Conseguiu. Depois, voltou-se à sua base para garantir que as convulsões da oposição fossem controladas e não produzissem efeitos. Outro sucesso! Sobreviveu ao golpe de Estado em 2002 e massacrou a oposição nas eleições presidenciais de 2006. Agora movimenta-se para sufocar a liberdade de imprensa na Venezuela e na Bolívia. Muitos acreditam ser um bufão, um ditador de opereta. Principalmente pela linguagem chula, pela inacreditável demagogia e pela inesgotável capacidade de criar factóides. Como é o caso do bolivarianismo, com o qual ele brinca dizendo que vem do século XIX, mas que foi concebido nas décadas de 60 e 70 do século XX. A sua nova onda veio com o título de Socialismo do Século XXI. Algo fajuto como a cientologia de Tom Cruise e John Travolta ou de algumas igrejas que se dizem evangélicas. Assistindo o desenvolvimento dos acontecimentos geopolíticos na região, ao Brasil só resta apostar no tamanho e diversidade de sua economia para manter certa liderança e no fato inconteste de que jogamos em uma outra divisão. A Venezuela e seus blue caps (Bolívia, Cuba, Equador e Nicarágua) jogam na terceira e quarta divisões do mundo. Nós, pelo menos, já estamos na segundona! Lamentavelmente, o povo venezuelano carente de sucessos democráticos – aceita a empulhação de Chávez. Suas elites há muito fracassam de forma aguda. O Brasil de Lula, seguindo o pensamento de alguns estrategistas de jogos de fim de semana, deu espaço para que Chávez crescesse. Apoiou-o quando estava fraco e colhe traições e humilhações como a trama por meio da qual nos tomou na mão grande as refinarias de petróleo na Bolívia. Lula parece não se importar. Comprovada nossa cumulativa omissão, complacência e incompetência, Chávez sentiu-se liberado para se imiscuir diretamente nas eleições da Bolívia, Equador, Nicarágua e Peru, violando, seguidamente, os preceitos da democracia e prosseguindo nos seus planos expansionistas. Caminha para ser uma espécie de Hitler tropicalizado, sem a dimensão humana e cultural de seu herói Simon Bolívar. Será que um dia não vai querer meter o bedelho na política nacional? Será que Lula vai ser o nosso Neville Chamberlain?