Murillo de Aragão
O PT não faz o que Lula manda. A afirmação é do deputado federal petista Cândido Vaccarezza (SP), um dos principais articuladores da eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara, ocorrida nesta quinta, e contrária à vontade de Lula que preferia a reeleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Vaccarezza disse também que os petistas devem lutar pela anistia do ex-ministro e deputado José Dirceu, cassado por envolvimento no escândalo do mensalão.
A eleição de Chinaglia expôs mais uma vez a fragilidade da relação do governo com a base aliada. Apesar da vitória do petista, o Palácio do Planalto submeteu-se a riscos desnecessários e a base política saiu fragmentada. A confusão da eleição da Câmara é a senha para que aliados cobrem alto pelo apoio político ao governo nos temas mais sensíveis.
Para controlar a impetuosidade de aliados, Lula recorrerá à sua poderosa caneta para liberar verbas e cargos. No entanto, enfrentará pelo menos três dificuldades: a resistência do PT em ceder espaços, a cobiça do PMDB e a mágoa do PSB-PCdoB.
Fortalecido, o PT não quer perder espaços. O PMDB ambiciona cinco ministérios com verbas. Algo em torno de R$ 75 bilhões. Vai ser uma festa.
Os incômodos da base política e o conflito de interesses não preocupam tanto Lula, que terá os votos necessários para se proteger das armadilhas de uma oposição dividida e avançar com a parte tímida da agenda legislativa.
No entanto, no caso de temas mais complexos, tais como Salário-Minimo, renovação da CPMF e da DRU e especialmente a votação da polêmica medida provisória 349/07, do PAC (destinação de recursos do FGTS para investimentos), as votações serão mais complicadas e difíceis.
A curto prazo, as expectativas na esfera legislativa são baixas: impacto da reforma ministerial na base política, a distribuição de cargos nas comissões da Congresso e as pressões dos governadores sobre o governo federal. As votações do PAC e de outros temas mais importantes acontecem a partir de março.